Não sei qual delas - BVIW
Algumas pessoas nos impressionam mais que outras. Talvez por terem características bem diferentes da nossa. Uma destas nunca esqueci. Aterrorizou a todos os que conviviam com ela na sala de aula. Vou chamá-la de Adelaide, só para deixar o passado descansar quieto.
Começava o dia e ela fazia a primeira premonição. A professora de Geografia vai escorregar assim que passar pela soleira. Dona Lucila se espatifava no chão, derrubava bolsa e livros. Na hora do intervalo bastava Adelaide apontar que o lanche de alguém caía no pátio e virava lixo.
Vivíamos apavorados com o medo de ser a próxima vítima de algo que Adelaide pressentisse. Punhos quebrados, joelhos esfolados muitos de nós já colecionávamos após seu olhar que mais parecia recado de outro mundo.
Mas o pior estava por acontecer. Ela me falou que tinha algo muito importante para me dizer, mas só depois das férias. Passei dias sem dormir direito pensando. O pior foi que meu pai decidiu aceitar o convite do banco para mudar de cidade justo naquele período de férias.
Seria sobre a mudança de cidade? Seria por que acabei conhecendo meu primeiro amor na nova escola? Seria por que minha avó foi dividir o quarto comigo na nova casa? Não sei qual dessas premonições Adelaide queria me contar. Não tinha redes sociais na época, não lembro o sobrenome dela para tentar localizar e tirar essa dúvida de anos.
Acho que nunca saberei.