Pracinha

Tem vezes que nos esquecemos de admirar a beleza da simplicidade nas coisas, penso que o caro leitor já se pegou nesta reflexão. Na manhã corrida que tive num desses últimos dias, acabei por relaxar na pracinha. Pequena praça, mas que parece tão grande ao mesmo tempo. Pequena demais quando estamos na correria do dia a dia, na corrida insípida de nossas tão valorosas e importantes rotinas. Rotinas tão foscas que ofuscam o olhar da nossa vida. Esquecemos de olhar a beleza das plantas, dos animais, das próprias pessoas. Quem sabe para você, seja a beleza de um homem maduro, mas para mim, se dá na beleza de uma mulher decidida desabrochando em sua responsabilidade. A rotina é tão cruel que, mesmo com estes belos “quadros” vivos para admirar ao bel dispor, decidimos seguir cegamente, sem sentir, sem viver. E a pracinha? - tu me perguntas.

A pracinha é esquecida. Os arvoredos são friamente deixados de lado. As óperas da natureza que cruzam ferozmente a garganta daquele lindo pássaro também cruzam direto nossos ouvidos sendo esquecidas pelos sons fúnebres das buzinas e motores.

Mas a pracinha por vezes parece tão grande…

Tão grande quanto naquela noite de céu estrelado em que eu e ela nos encontrávamos abaixo do teatro dos astros ao espaço e que realizavam sua peça para Deus. Nossos olhares cruzavam uns com os outros, eram poucos metros, poucas explicações, poucas palavras. Eram pequenas passadas na pequena pracinha, mas a pracinha se fazia gigante. Grande pelos nossos problemas que sussurravam às nossas mentes os mais crueis erros e possibilidades. E nossas mentes são tolas, caro leitor; elas escutam quietinhas as palavras sem carinho que nossos medos nos enviam como cartas de ódio ao amor.

Mas a pracinha por vezes parece tão viva…

Viva como um ser humano que acabara de ser concebido, com medo, embasbacado para com os mistérios que viriam abruptamente aos seus olhos que até então só viram escuridão maternal. As pessoas e suas conversas, os trabalhadores com sua pressa, os vendedores vendendo às remessas. É de se admirar quando o olhar remete ao cérebro o entendimento: é a vida; e como é a vida. As crianças trocando passes com a bola ao pé, sonhando em ser como Pelé, mas que um dia a vida faz crescer e entender como difícil aquilo é…

Mas a pracinha por vezes parece tão triste…

Ao passar os olhos nas margens de uma festa da cidade que se acomete por lá. O perceber do laços que não foram formados, dos beijos que não foram dados, dos amores que ficaram acabados. Mas tudo isso também se traduz em beleza para o espectador que observa além dos olhos, mas com o coração.

É que a pracinha, caro e solene leitor, também é a vida. Toda construção da humanidade – seus prédios intrépidos, casas das mais rústicas e belas – se traduz apenas na expressão do “nós”, do ser humano. Somos a pracinha e a pracinha é como a gente.

~ 18 de Junho de 2024