AH! DINDO JOSÉ COELHO, A PRETA DO LEITE, A BARBEARIA DA GROSELHA E O ARMAZÉM DO GATO DO SEU ALBANO
Só pontuando, eu não conheci os meus avôs de ambos os lados, minhas avós já eram casadas pela segunda vez quando nasci, nesta crônica o meu Dindo Coelho, era meu vô postiço por parte de mãe, meu padrinho e português. Só pra constar o meu avô primeiro era libanês caixeiro viajante e, quando casaram em Portugal, a minha avó Maria de Jesus, veio muito jovem para ser cozinheira no Palácio Guanabara, quatro filhas. Duas partiram ainda antes de um ano de idade, meu avô faleceu também, minha avó viúva com vinte anos, minha tia Mabile com três anos e minha mãe Maria de Lourdes com quatro, minha avó casou outra vez com o meu Dindo Coelho, que não aceitou a rebelde da minha mãe e, ela foi criada num orfanato, onde aprontou todas, era rebelde e levada àos cântaros rrrsss... só que era um orfanato de freiras chique, minha avó fazia doações e visitava minha mãe todos os dias, a minha mãe voltou pra casa aos dezenove anos se entendendo com o meu Dindo.
Quando eu nasci e ele virou meu Dindo, mudou absolutamente a forma de viver e, tratar as pessoas, eu nasci dando vida à uma benção de padrinho/vô.
A minha Tia Mabile faleceu aos dezoito anos, às vésperas do casamento. Ela tinha aquela doença Catalepsia, era preciso ter certeza de sua morte... você pode rir ou fazer ó ó ó ó, é justo, muito justo, justíssimo...como falam alguns personagens na novela Renascer com o remake no ar no momento.
O que ninguém contava, foi cinco anos depois, abriram o caixão para que os restos mortais fossem para uma gaveta e, os inúmeros medicamentos que ela tomou para tentar se salvar da tuberculose, conservaram o seu corpo e, ela estava intacta e vestida de noiva, ok a roupa estava rasgada. Exceto minha mãe, meu Dindo Coelho, minha avó Maria de Jesus e o antigo noivo dela meu quase 'Tio' Albano Noronha, as outras pessoas presentes desmaiaram. O meu quase tio, nunca se casou na vida, ele viveu sozinho sendo técnico de futebol de salão, do Clube Hebraica em Laranjeiras até ficar bem velhinho. Eu considerava ele meu tio de verdade. Minha irmã e ele, tinham algo em comum, gostavam de comida seca, até empada sem recheio...vê se pode!
Podem dizer que sou prolixa, ok palavra difícil e de pouco uso, mas, estão certos...falo à beça rrrsss... Voltando ao tema da crônica, falo do meu Dindo Coelho, negociante do tipo que compra equipamentos e mercadorias, em outros Estados próximos, tipo ES, SP e MG, repassando no RJ. Sendo assim, nas entregas em Laranjeiras, mesmo eu tendo entre três e cinco anos de idade, ele me levava num carrão preto e com estofamento chique, de couro marrom confortável, eu ia toda feliz, aí vão entender. Até os doze anos eu era mais alta que meus coleguinhas, inteligente e falante. Saía com ele, sempre depois do passar da carroça do leite, conduzida por uma preta fofa, já madura, sorridente e que apregoava os galões metálicos de leite...beeem alto, eu ia ajudando...
- A preta do leite...a preta do leite...a preta do leite!!! Lhe dava as garrafas de vidro para que ela enchesse com o leite e o meu Dindo Coelho, entregava pra minha avó Maria de Jesus.
A minha avó sempre dava para ela, doces portugueses e, trocavam dedinhos de prosa. Quando mudei por pouco mais de um ano para o bairro do Grajaú, não é que a mesma doce preta do leite, também passava por lá, era uma guerreira linda.
Seguindo...tomávamos café e íamos para fazer as entregas, ou pegar pedidos por todo o bairro de Laranjeiras.
Chegando à barbearia do Seu Manuel, ele tinha uma refresqueira com torneirinha, para atender à clientela com groselha grátis. Sempre que eu chegava, ganhava colo, apertos nas gordas bochechas, ele me colocava numa cadeira e me dava um copo de groselha. Enquanto ele e o meu Dindo negociavam, lá ficava eu falando pelos cotovelos com os clientes que iam chegando e, sendo atendidos pelos outros três jovens barbeiros...e tome apertos nas bochechas, chegava em casa com marcas levemente arroxeadas no rosto, pois anos depois descobri que minha pele ficava roxa à toa.
Eu era fofa e risonha, com covinhas...fui até capa da revista Manchete aos dois anos, como bebê Johnson's numa concurso publicitário, vestida com chapeuzinho de aba branca bordada de branco, banhinhas do tórax e barriga de fora e, uma calcinha branca rendada sobre a fralda, minha avó Maria de Jesus bordava muito bem.
Já fugi de novo do tema da crônica, me desculpem ou não me leiam...tudo bem...esta sou eu e, não consigo controlar rrrsss...
Outras muitas vezes, a negociação do Dindo Coelho, era com outro Albano, não o meu quase 'Tio' Albano Noronha, que quase casou com a minha Tia Mabile. Este era dono de um grande armazém, que ficava na Rua Soares Cabral esquina com a Rua das Laranjeiras. Ele me tratava como filha e 'provadeira' me mimava demais, me colocava sentadinha no balcão, enquanto atendia aos clientes junto com os filhos e a esposa e, ainda resolvia outras coisas com o meu Dindo Coelho.
Aí começava, eu ganhava pirulitos de açúcar cristal embebidos em anilina sabores diversos, eu preferia morango, tangerina ou laranja. Aí vinha através da família toda dele, as 'provinhas'...presunto, queijo, uva, carne seca, linguiça de 'padre', azeitonas, ovo cozido de casca rosada, picles...porque será que a vida inteira eu fui redondinha?? rrsss...
Saindo de lá, o meu Dindo me levava pra comer pipoca, com um amigo que frequentava o Instituto dos Surdos na Rua das Laranjeiras, em frente ao armazém do Seu Albano..até aprendi um pouco de libras com o amigo do Dindo, pra uma criança ele era uma pessoa que atiçava a curiosidade e, era super cativante, pois fazia versos infantis falando engraçado e em libras, que com o tempo fui compreendendo. Foi um tempo muito bom de aprendizagem.
Deus meu! Pare de falar mulher e fugir do assunto da crônica...ou seja lá o que for rrrsss....podem desistir de mim, pois eu não consigo mudar rrrsss...
O dias negociados em Laranjeiras, terminavam normalmente, num chafariz de uma pracinha, que não existe mais. As crianças, colocavam barquinhos de papel pra navegar...bem divertido...eu e as águas...
Olhe a falha dentro de tanto falatório...e o gato?? Como pude esquecer do Veludinho do Seu Albano do Armazém, era lindo e cinza, grande e dorminhoco, adotava os sacos de batatas e se espalhava todo sobre eles, com os carinhos que recebia. Lindo demais! confesso do fundo do coração...deu saudades...
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