Por onde for
Não pude conhecer meus avôs. Ambos, senhores completamente distintos em vários aspectos, e similares em bem poucos, só me foram apresentados nas prosas esporádicas das conversas familiares.
Do lado paterno, tenho mais informações. Talvez porque meu saudoso pai, junto de seus irmãos, falavam dele com demasiada frequência. Apesar de austero na postura e nalguns gestos, o senhorzinho tinha o coração de manteiga e a paciência comparada à de Jó.
Vez ou outra, ouço minha mãe falar dele: "seu avô chorava tanto na igreja; tudo o emocionava". Especialmente na igreja, é o local em que mais ouço falar do nostálgico Jacintho.
Ele era músico - tocava bombardino - além de ajudar na administração e limpeza. Algumas pessoas que tiveram a alegria de conhecê-lo, relembram dele com grande alegria. Certa feita, um cooperador me disse: "seu avô foi daqueles caros servos de Deus. Deixou o bom cheiro por onde passou".
Nunca me esqueci dessa metáfora. Pude vê-la, encarnada também, no meu pai. Apesar das minhas falhas, luto para alcançar um testemunho tal qual deixaram meu pai e avô.
Dia desses, lendo algumas postagens na rede social, deparei-me com uma que me chamou a atenção, cujas palavras eram, mais ou menos assim: "você pode se achar insignificante, mas alguém ouviu uma música e lembrou de você; alguém ouviu seu conselho; alguém sorriu ao lembrar de você".
Apesar das minhas reações lentas, timidez sobejada, entre outras conjunções subordinativas, meu desejo profundo é deixar boas sementes e flores por onde passar. Pode parecer piegas, afinal não é possível agradar a todos. No entanto, procuro, no meu alcance humano, deixar rastro da Coralina; nada do que vivemos têm sentido se não tocarmos o coração das pessoas.
Para quem trabalha na área da educação, essa missão é ainda mais desafiadora. Ser um bom exemplo custa caro e, igualmente, vale muito. Justamente por isso, toda vez que um aluno solta um inesperado agradecimento ou um comentário valioso, é motivo de alegria.
A vida, breve que é, demonstra no ordinário que os dias comuns são significativos. Dona Cora, nos seus versinhos, exemplificou a grandeza dos pequenos gestos, relembrados nos bons cheiros e testemunhos deixados...
"E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura"