Nada é pequeno se feito com amor
Para minha grata sorte, cresci rodeada de mulheres de fibra. Minha mãe, avós e tias foram e são meu espelho a ser seguido: cada uma na sua singularidade e grandiosidade.
Quando visitávamos a casa de minha avó, além da alegria em poder correr nos corredores estreitos e esconder nos arbustos e flores, outro grande prazer era tomar café.
Havia uma padaria próxima à sua casa. Ela pedia a alguém que buscasse o pão - isso quando não tinha feito nenhum caseiro. Minha satisfação, no entanto, estava em degustar as deliciosas bolachinhas caseiras; nomeei-as "bolachas torcidinhas", porque eram feitas trançadas.
Para minha tristeza, não tive a graça de aprender a fazer tal bolachinha. Todavia, uma de minhas tias, que herdou de vovó o talento da cozinha, ensinou-me a fazer bolachas de nata.
Esse episódio - outro memorável em minha vida - aconteceu pouco antes de minha tia partir. Certo dia, fui à sua casa para aprender a receita. Até hoje tenho um trechinho de um vídeo gravado, o qual está guardado como lembrança daquele doce dia.
Desde a adolescência tive contato com a cozinha. Apesar de não ser uma exímia cozinheira, tenho um apreço imenso pela função. Cozinhar é terapêutico.
Na época de férias, gosto de explorar as receitas e panelas. Despender horas no fogão e louças, apesar de custoso, causa-me grande contentamento. Há gosto para tudo, né?
O mais satisfatório, para mim, é contemplar o prazer e a serenidade de quem degusta da refeição. As conversas despretensiosas à mesa, alternadas entre o ouvir e o sorrir, restituem todo o esforço empregado na execução da receita. Quando, então, um elogio sincero é precedido da última garfada, o sentimento é de missão cumprida.
Todas essas vivências, junto às tantas outras compartilhadas com minhas amadas senhoras, mostram-me e provam-me o que tanto ouvi e agora sinto: "nada é pequeno se feito com amor".