O tempo anda desfalecendo em minhas mãos: O eu fora de mim
Imagino que estou em um sono profundo e ao mesmo tempo me vejo de fora. Vejo-me sonhar, sorrir, mexer os olhos fechados. Estou deitado imóvel às duas e meia da manhã, os cães latindo na rua, todos também dormem. Estou além de mim mesmo, flutuando acima do meu corpo, a claridade da luz em meu rosto por saber que na noite passada esqueci de apagar, de tanto cansaço no corpo, mas aí lembro que estou além de mim, e não sinto mais o sofrimento do corpo. Parece ser legal, mas preciso voltar e sentir tudo da vida novamente. As dores, os amores, as preocupações e todo o resto que a vida oferece além do tempo.
Quase não me olho no espelho para não ver quem realmente sou... e se sou apenas uma falha no sistema da vida? Será que existo de verdade? Me toco com esse pensamento e me sinto real, mas presa a algumas ideias malucas de mim mesma que não posso compartilhar. O que vão achar é que ando maluca das ideias, mas não é. A crise existencial bate em todos os momentos e não sei como a impedir.
Imagino que estou em uma bolha gigante de água, tento falar e até me escuto dentro da água, as bolhas de ar sobem como se estivesse perdendo o sentido e ficando sem ar. Olho para minha própria vida, minhas escolhas, meus amigos, pessoas que passaram por mim e me marcaram; também vejo o meu passado. Vi que foi tempo perdido. Ao mesmo tempo, vejo a mim mesma dentro de casa fazendo os afazeres porque no outro dia não quero me cansar tanto, quero descanso, mesmo sabendo que não vou aproveitar o descanso porque penso demais e acabo desperdiçando o tempo com bobagens e pensamentos intrusivos. Vejo minha vida de fora, vejo o tempo passar, escorregar pelos meus dedos como areia da praia.
Me olho e penso que é perda de tempo estar fazendo tudo isso, não valerá a pena, e ao mesmo tempo sofro por ter que fazer tudo pelo que amo e valorizo. Arriscaria tudo para viver? E se eu soubesse que estou vivendo, mas que perdi tempo demais absorvendo coisas do meu passado, e no outro passado o meu passado. Sei que ficou confuso, mas... É um loop infinito do qual perdi o controle. Por isso, todas as manhãs que acordo, me sinto cansada de me observar por fora e ao mesmo tempo não entendo como posso voltar a viver com tranquilidade sem medo de ser tempo perdido. O que fazer?
Sem entender o que é, do que vim fazer e como fazer, escrava do tempo e do loop eterno da vida, mesmo sabendo que não é tão eterno assim... Sofro em silêncio porque ninguém consegue me ajudar realmente, mas o que parece é que só eu estou fora de mim, só eu me vejo de fora e só eu sinto que estou dentro de uma bolha de água falando enquanto tudo lá fora está normal, e a vida passa e o tempo passa, então, estou aproveitando ou não? Como realmente posso aproveitar a vida?