Um coração postiço de Rubem Braga me trouxe recordações
Amigo(a) leitor(a), tudo bem com vocês?
Mexendo nas minhas caixas de mudanças reencontrei um livro que já tinha lido mais que nunca mais tinha visto, também pudera, três ou quatro mudanças nos últimos três ano é o suficiente para perdermos até o guarda-roupa. Pois bem, reencontrei o Conde e o Passarinho de Rubem Braga, um livrinho que comprei aleatoriamente num sebo quando ainda era estudante.
Na verdade, esse livrinho não é novidade aqui na minha escrivaninha, eu já havia falado sobre ele em alguma crônica de um ou dois anos passados, mas parafraseando o filósofo: ninguém ler um livro duas vezes da mesma maneira, mudamos nós e o texto. Eu deixo para explicar noutro momento com mais detalhes essa metamorfose humana e literária, vou me voltar para o livro.
Eu tenho uma certa feição com as coisas que são feitas nos anos 1933 e 1949, anos de nascimento do meu falecido pai (2002) e da minha amada mãe. Como eu nasci em 1987, já no fim da carreira reprodutiva de ambos, tento conhecer mais sobre seus tempos e para minha alegria o primeiro texto do livro O Conde e o Passarinho é de 1933.
Quando começo a leitura me deparo com outro motivo para me identificar com a primeira crônica “Como se fora um coração postiço”. Rubem discorre sobre um menino que nasceu com o coração fora da caixa do peito, lá para os lados da Hungria. Bem, Rubem mostra que nascer com o coração respirando ar puro não é exclusividade de estrangeiros, e que até uma paulistinha já nasceu assim e brilhou apenas 5 horinhas nesse mundo antes de fazer coro com os anjinhos no céu.
Se eu já tinha sido fisgado pelo texto ser do ano de nascimento de meu pai, fui tocado pela segunda vez pela história dos menininhos dos corações à mostra. É que também perdemos um bebê. O nosso Joaquim teve má formação em vários órgãos o que o classificou como incompatível com a vida. Eu juro, nenhum pai e mãe quer ouvir essas palavras, é uma dor que até hoje não sei descrever. Temos outras duas bênçãos que Deus nos presenteou, e mais dois sobrinhos ainda crianças que completam a nossa alegria. Mas ainda não sarou, só que não é uma dor de desespero, é de saudade, de meu bebê que faria 6 anos e de meu pai de partiu há 22 anos e que faria 91 anos. Acho que seria o velhote mais teimoso da face da terra. Saudades.