A beleza da música Time, do Pink Floyd, e o fim dos relojoeiros de manutenção
O fim dos relojoeiros de manutenção e a beleza da música Time, do Pink Floyd
por Márcio de Ávila Rodrigues
[14/05/2024]
Durante a minha infância e juventude, eu tinha um relojoeiro de confiança no bairro de Santa Tereza, Belo Horizonte. Era o ‘seu’ Antônio, um profissional discreto, tranquilo de se lidar. Era o dono da pequena Relojoaria Mido, na rua Mármore, a principal do bairro.
Eu me lembro bem dele colocando uma lente de aumento (tipo monóculo) no olho, depois tirando as tampas traseiras dos relógios e cuidadosamente mexendo nas minúsculas peças que compunham a máquina analógica de tic tac.
Ele fazia parte de uma categoria profissional indispensável, pois os relógios estragavam constantemente. Talvez os famosos relógios suíços dispensassem o ‘seu’ Antônio e seus colegas, mas certamente eram uma minoria.
Eu era um contumaz jogador de futebol de botão em minha meninice. Os botões comprados em loja eram minoria, eu costumava fabricar atletas de fantasia juntando pedaços de plástico e aquecendo-os numa forminha de empadinha. Depois que eles tomavam o formato do fundo da forminha, eu raspava a parte de baixo (os pés dos meus atletas) com uma lima ou simplesmente no chão.
Mas o ‘seu’ Antônio me dava uma opção extra: juntava as lentes inutilizáveis para os relógios e as vendia para os meninos que praticavam o futebol de botão. Consegui bons jogadores dos restos de relógios.
‘Seu’ Antônio já deixou o plano terrestre há muitos anos. O relógio analógico de pulso virou uma peça do passado, e os senhores Antônios da atualidade só trabalham para colecionadores e, certamente, cobram bem caro. Criaram um micronicho.
Por intermédio dele, faço aqui uma homenagem a todos os profissionais de formação prática que, com muito esforço, conseguiram fazer uma boa carreira.
A eletrônica fez, nos anos 1980, uma revolução nos aparelhos que nos mostram as horas. Os relógios digitais sufocaram, em poucos anos, a indústria dos analógicos. E participaram da nova ideologia do descarte. Estragou, o lixo é o destino.
Aproveito para destacar a mais bela homenagem musical à passagem do tempo, que no meu entendimento foi a música Time, do Pink Floyd. Uma bela letra associada a sons de relógios analógicos, sons do passado que se distancia. Foi lançada em 1973, no icônico álbum The Dark Side of the Moon.
Encontrei na internet esta descrição da gravação: "Os efeitos sonoros não eram digitais, como hoje, então, o tic tac teve a gravação produzida pelo engenheiro Alan Parsons separadamente em lojas de antiguidades e depois na mixagem conseguiram editar como aparece na canção original.".
Fonte da informação: https://www.navecriativa.com/pink-floyd-time-um-classico-que-em-2023-teve-duas-versoes/#google_vignette
E sugiro este belo vídeo de Time: https://www.youtube.com/watch?v=GG2tZNOQWAA
Sobre o autor:
Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).
Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.
Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.