MACHADO SE REVIRA NO TÚMULO...

Amigos(as) leitores(as) que prazer tê-los aqui no meu Recanto e se você está aqui pela primeira vez, seja bem-vindo e espero que goste.

 

Hoje, surfando nas ondas dessa terra de ninguém que é a internet me deparei com um tex-to que valeu a pena ter encontrado, como dizem os mais jovens foi um "achado".

 

O texto é de 1992 e foi escrito por Otto Lara Resende, um dos grandes cronistas da nossa his-tória. Ainda bem que deu tempo dele escrever esse texto antes de morrer. A crônica é de maio e ele morreu em dezembro do mesmo ano. O título da crônica é: "Não traiam o Machado", e quem quiser lê-la na íntegra eis o link (https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/9502/nao-traiam-o-machado).

 

Vou direto ao assunto do texto com este trecho: " Dom Casmurro saiu em 1900. Machado morreu em 1908. Nenhum crítico nesses oito anos jamais ousou negar o adultério de Capitu". Então, era certo o entendimento que houve traição. Bem, quem leu o romance com o mínimo de atenção viu que ocasião foi o que não faltou para que o ato de deslealdade conjugal acontecesse. Otto La-ra fundamenta em seu argumento que alguns amigos de Machado como o Graça Aranha e o Ma-chadiano Dalton Trevisan, não tinham dúvida so-bre a paternidade de Ezequiel. Eu sou da escola da velha guarda, então acredito na traição. Infe-lizmente nunca fui apresentado na escola a possi-bilidade de não traição e as vezes os professores também não afirmavam que não houve. Eles dizi-am que nós que deveríamos decidir. E nesse de-cide e não decide, o que mais surgiu foram teori-as, inclusive a de que Escobar não estava de olho em Capitu coisa nenhuma, mas sim em Bentinho.

 

Uma coisa eu digo, estamos vivendo um período de enorme revisionismo. Tudo está sendo revisto e não está ficando pedra sobre pedra a ponto da rainha dos baixinhos sugerir que a Bí-blia fosse reescrita. Esse fenômeno de revisão é novo? Não, não é. Li em algum lugar que o livro O retrato de Dorian Gray tem duas versões, a cen-surada e a estendida. Cada geração dominante da cultura vai impor as suas ideias sobre os demais. Isso é claro com o processo da linguagem neutra que querem que aprendamos da mesma forma que engordam peru para o Natal: empurrando “guela” à baixo e se vomitarmos, sempre terá ou-tra sessão de engorda.

 

Mas, traiu ou não traiu? Para mim agora depende. Se for para se amoldar a uma corrente ideológica que se impõem à força sobre os leito-res eu prefiro fazer como os meus professores da escola e dizer que quem decide é o leitor. Até mesmo porque se Machado tivesse deixado em seu testamento que Capitu traiu Bentinho, alguém proporia fazer a revisão do documento, coisa pa-recida com o que acontece no romance distópico 1984 de Orwell onde até o que estivesse escrito seria mudado para se adequar à vontade dos do-minantes da cultura.

 

 

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 08/05/2024
Reeditado em 02/07/2024
Código do texto: T8058957
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