O MACHETE- CONTO DE MACHADO DE ASSIS- 1878 PUBLICADO NO JORNAL DA FAMÍLIA

Amigos leitores, como vão? Espero que estejam todos bem!

I

Navengando pelas ondas curtas e compridas do mar virtual me deparo com um conto do nosso Bruxo do Cosme Velho: O machete, de 1878, publicado no Jornal das Famílias.

O conto narra uma história bastante conhecida da gente, inclusive, é comum ganhar destaque nas páginas policiais ou, de forma mais moderna, nos blocos dos programas das 12h. No conto, Machado nos apresenta alguns personagens que se enroscam na trama, e são eles, os músicos Inácio, Amaral e Barbosa, além da esposa de Inácio, a jovem Carlotinha. Ainda há alguns outros partícipes, como os pais e o filho de Inácio e mais outros de pequena participação , quando não, apenas citados na história. Mas o núcleo duro se concentra nos quatro primeiros apresentados.

O Machadão estava aqui com 31 anos de idade. quando este conto veio à luz (só um detalhe, ele viria a fundar a ABL quando estivesse com 58 anos e só publicaria Dom Casmurro aos 60, mas a crônica Fanqueiros Literários - que por sinal tem resenha aqui no meu Recanto-foi escrita quando ele tinha apenas 20 anos) publicado no Jornal das Famílias (vou pesquisar mais sobre esse jornal e depois eu conto o que achei). Partindo do pressuposto do que acontece quando se coloca uma pessoa estranha na intimidade do seu lar, e tomando como exemplo a amizade de Bentinho, Ezequiel e Capitu, já ligamos os pontos e mesmo vendados acertamos o rabo do jumento, o que vai acontecer é: uma traição. Mas não apenas o ato em si, mas o completo abandono do lar. "Ôôô George, tu és um estraga prazer! Já entregou o final da história..." Não! Não estraguei nada. Só um desmiolado imaginaria que abrir as portas da sua intimidade para um estranho, e além do mais um músico, iria ter resultado diferente. Era óbvio que iriam "furar o olho" do pobre Inácio.

II

O nome do conto é Machete e faz referência ao instrumento tocado pelo "Pé de pano" que levou a mulher de Inácio.

Fiz uma breve pesquisa e vi que machete é um instrumento bastante similar ao cavaquinho e pequeno como um ukulele. Também encontrei a viola machete, nessa caso, ela possui mais cordas e o tamanho é um pouco maior. Quanto a sonoridade, sua afinação é em mi maior, pelo menos o exemplo que vi no Youtube, e as cordas produz um som rústico, ou seja, não é um som limpo com o de um violão com cordas de aço, é mais parecido com cordas de arame, e som é metalizado.

III

Já que eu contei o final do conto na parte I, vou rasgar o verbo, mais isso não impede de forma alguma que você o leia e tenha uma interpretação diferente ou complementar a minha. Pois bem, o Inácio é um músico tocador de rabeca, mas que ama tocar violoncelo (veja, ele vai do popular ao erudito). Ele tem um amor pessoal. É seu, e guarda para si como um tesouro, no máximo tinha como plateia a sua mãe, e esta se deleitava com a sua arte. Pouco tempo depois se casa com a Carlotinha, mas essa, ao contrário da boa e velha mãe, não compreende a beleza da sua música, veja bem, o Inácio compos uma peça triste, um tributo à sua mãe morta, e a esposa ao escutar aplaudiu como se fosse a mais bela canção de felicidade. Isso muito o magoou e o fez guardar o instrumento. A esposa, talvez como forma de redimisse pediu-lhe uma canção e ganhou, dessa vez ela compreendeu a mensagem da música e o aplaudiu entusiadamente até dando-lhe como recompensa uma beijoca.

Inácio tocava seu violoncelo quando dois transeuntes o escuta. Pronto. É aqui que inicia o inferno de violoncelista. Um dos ouvintes também era músico e era o macheteiro, o Barbosa. E ele tocou, Machado diz que ouvi-lo tocar não era nada comparado a vè-lo tocar. Era com os nervos. Ao contrário de Inácio com o violoncelo, pesado, grande, clássico, algo distante, Barbosa tocava cantiga de rua. E imagino eu, que tocava como quem brincasse descalço na rua.

Amaral parecia ser o único entusiastas do violoncelista, os demais estavam encantados com a machete. Amaral pergunta porquê eles não fazem uma apresentação. Inácio diz que tem medo. Bem, medo esse que o Barbosa não tem de modo algum. Em pouco tempo toda a vizinhança sabe que ali há um macheteiro e corre para ouvi-lo. E de cara, a maior entusiasta era a Carlotinha de Inácio.

Não deu outra. Meses depois a Carlotinha partia com o machete abandonando a família. Resta ao abandonado lamentar a ponto de enlouquecer.

Bem, só relembrando que esse conto foi publicado no Jornal da Família, eu achei uma ironia, mas...

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 06/05/2024
Código do texto: T8057761
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