Paciência
Era feriado. Numa ida de praxe ao supermercado, como esperado, por ser o famigerado dia de
sueto, as filas estavam grandes. Para meu desalento, esqueci o livro em casa - essas filas são ótimas oportunidades para colocar leituras em dia.
Escolhi um caixa aleatório; bom, para ser sincera, optei por aquele cuja atendente era a mais simpática e, por sorte, estava bem menos cheio. Duas únicas pessoas (que deduzi ser um casal) estavam à minha frente. Internamente, declarei meu júbilo, sabendo que não me atrasaria para o almoço.
O inesperado surgiu como a manifestação corriqueira: um problema com a leitura do cartão, fez com que o casal precisasse passar na gerência. Enquanto isso, as compras ficaram interditadas, sem que os demais, que se encontravam na fila, pudessem passar. Eu, que era a próxima, e que inocente acreditei sair logo do local, tive de esperar muito mais do que cinco minutinhos.
Os consumidores, crentes de que o caixa com uma só pessoa seria o mais rápido, desistiam sem culpa ao perceber sua paralisação. Impulsionada pela pressa sempre presente, cogitei abandoná-lo; no entanto, observando que os outros estavam cheios, percebi que trocaria o tão famoso "seis por meia dúzia".
Enquanto conversava com a simpática moça, dizíamos sobre a paciência. "Você é realmente paciente", ela me disse. Sorri acanhada, sem conseguir concordar com tal fala.
Voltando à minha casa, o assunto ficou ecoando nas minhas ideias. À noite, conversando concomitante com duas amigas, os assuntos, sem qualquer planejamento e por coincidência, chegaram à pauta da espera.
Nunca me considerei um exemplo de paciência. Todavia, bombardeios de comentários, quer sejam de amigos ou conhecidos, afirmam convictos que possuo tal virtude.
De fato, o capítulo 3 de Eclesiastes sempre me provocou. O tempo determinado, de todo o propósito, exige, de nós, a desejada paciência.
Nessa era em que vivemos, cujas circunstâncias incitam ao imediatismo, falar de paciência, espera e suas familiaridades soam obsoletas.
Tudo colabora para o instantâneo. Os alimentos, os pagamentos, as pesquisas: basta um toque para que tenhamos à mão o que almejamos. Não podemos negar que essa facilidade coopera para muitos benefícios, entretanto a temperança precisa estar à espreita. A linha é bem mais tênue do que pensamos.
Há uma sede nunca satisfeita por essa pressa. Talvez por ser uma pessoa de ação e raciocínio lentos, a precipitação nunca me despertou interesse. Não levemos a ferro e fogo, a vida é baseada em equilíbrio.
O que discutíamos, indignadas, é justamente a pressa depositada naquilo que necessita de formação e maturação. Diversas situações e ocasiões, ainda que vistas e tratadas com displicência, gostemos ou não, sempre exigirá passar pelos processos; e estes, mesmo dolorosos ou demorados, requerem paciência.
Um fruto, se colhido ou consumido antes do tempo, certamente causará algum dano. Deus, em sua infinita perfeição, "tudo fez formoso em seu tempo".
Se as palavras ditam a nós sábios ensinamentos, muito mais são as conjunções e condições de Deus dadas a nós.