"CORAGEM"

Naquela tarde, os policiais não estavam para brincadeira. Levariam em cana, custasse o que custasse, o fascínora que ferira com uma pedrada o menino vizinho. Fora sem querer, uma brincadeira inconsequente, mas o ato culposo não poderia ficar assim, para não desmoralizar a instituição. A polícia tem que atuar, e aqueles membros da lei estavam próximos, quando ocorreu. Não era decente fazer vista-grossa.

Atenderam à porta um homem franzino e uma mulher mais ainda. Estavam ambos com medo, mas pareceram oferecer alguma resistência, com gestos e expressões desesperados. Os dois policiais voltaram com caras de "nos aguardem", dirigiram-se à viatura estacionada a poucos metros dali e pediram reforço pelo rádio. Pouco depois chegaram mais viaturas e oito ou nove homens destemidos, de armas em punho e dispostos a tudo. Entraram com truculência e saíram carregando, além do homem franzino e amedrontado, a pessoa perigosa que procuravam com tamanho aparato e demonstração de força e poder.

Era uma menininha de quatro anos de idade, a autora do "crime". Brincando com o coleguinha, Clarice jogara uma pedra para cima e esta caíra sobre um olho da vítima, que foi parar no pronto-socorro. Testemunhas oculares que foram, os plantonistas resolveram agir, e não se sabe como, conseguindo o apoio de um quase batalhão para não deixar que a "fascínora kid" saísse impune. Porcerto, ela iria zombar da lei distribuindo a notícia de sua ineficácia, indiferença ou covardia perante algo tão grave.

O ocorrido pareceu ter provado que a polícia pode ser ligeira, rígida e altamente eficaz. Se a onda de crimes cresce vertiginosamente em todo o país, é porque quase sempre faltam contingente, armamento e comunicação adequados. Sem contar que nem todos os policiais são atentos, ousados e decididos como os que resolveram um caso tão intrincado e desafiador em tempo recorde, merecendo aplausos da opinião pública, do estado e do alto comando militar. Pelo visto, um belo exemplo para todo o Brasil.

Com todas as falhas do sistema, propiciando esse avanço da criminalidade, a nossa polícia é corajosa. O que lhe falta mesmo são condições propícias de atuação. A prova cabal do heroísmo e da coragem de nossos homens da lei se mostrou aí: Bem armados, em grande número, talvez com coletes à prova de balas, aqueles policiais não tiveram medo nem de uma garotinha de quatro anos!

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 04/01/2008
Código do texto: T803010
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.