Olho mágico - BVIW
Beto sempre me pedia para tirar do fundo da memória meus grandes, fundos e inocentes olhos. Seus dedos tocavam tambores imaginários no ritmo do nervosismo. Já sabia que ele evocava meus olhos de criança todas as vezes que rompia nossos acordos.
Pela segunda vez na semana evitei a banca de revista. Minha intuição dizia que não teria criatividade nem na traição. Capaz de ter voltado lá, com a colega da musculação. Cães atrás de uma cadela caramelo no cio me forçaram a mudar para a calçada da banca.
Quando éramos crianças e vizinhos, vi Beto roubar goiaba, bater em amigos franzinos, jogar pedra em gato... Achava o máximo a valentia dele de só fazer o que queria. Era apaixonada desde então, sem saber. Boba, o via como alguém que sempre me defenderia.
Mas Beto não conseguia me proteger nem dele. Ao desviar os olhos do beijo dos dois na banca, minha criança de dentro saiu do útero da memória ao ver o título “Mulheres criam novos pactos”, em uma revista. Passei no chaveiro, mudei a fechadura, coloquei olho mágico na porta. Dane-se Beto.