O transporte por aplicativo é mais positivo do que negativo. A tecnologia a tudo muda

O transporte por aplicativo tem mais pontos positivos do que negativos. A tecnologia a tudo muda e é inevitável

por Márcio de Ávila Rodrigues

[10/03/2024]

Da varanda do restaurante (foi no primeiro dia de março de 2024) vejo duas mulheres paradas, olhando o trânsito e segurando o celular.

Postura típica de quem está esperando um carro de aplicativo, mercado atualmente dominado pelo Uber.

Os carros chegam e elas embarcam. Foram poucos minutos de espera, o que não acontecia quando a única opção era o táxi.

No velho formato, as pessoas tinham que procurar uma via de maior movimento e identificar táxis vazios. Ou telefonar para um ponto de espera deles, pagar desde a saída e torcer para não "levar cano”.

Eu já perdi compromisso porque o motorista não apareceu. Depois outro taxista me contou que alguns colegas antiéticos abandonavam o cliente (no intervalo entre o telefonema do ponto e o embarque previsto) quando encontravam uma corrida mais interessante e lucrativa. Contavam com o baixo risco de identificação.

Quando o Uber apareceu no mercado, eu fiquei muito surpreso quanto à sua situação legal. Eu achava que qualquer serviço similar aos táxis continuaria sob administração do poder público. Estava enganado, nem há muitas discussões sobre este direito.

Mas a milenar disputa por trabalho foi inevitável. Os taxistas tradicionais reagiram mal e foram muitos os casos de violência e vandalismo. Os pioneiros do Uber sofreram mais.

Mas não demorou muito a ficar demonstrada a importância econômica do novo formato. Foi responsável pela complementação de renda de muita gente, beneficiando um número muitas vezes maior do que as vagas ocupadas pelos taxistas tradicionais. Em uma análise qualitativa pessoal, entendo que o transporte por aplicativo beneficiou as classes C e D.

Ajudou especialmente as pessoas que perderam suas vagas no mercado de trabalho por causa das mudanças tecnológicas. E tinham muita dificuldade de recolocação.

Aconteceu até com vários parentes meus.

Observei que alguns motoristas de aplicativo tiveram dificuldade para “assumir” o novo emprego, de informar parentes e amigos que trabalhavam como motoristas. Certamente é consequência daquela pequena vergonha brasileira de fazer trabalhos "inferiores”.

Na cultura de primeiro mundo, vergonha é não querer trabalhar.

O fato concreto é que todos (e todas) aqueles que escolheram esta opção já estavam percebendo que o mercado de trabalho havia mudado de forma definitiva. Eles optaram por lutar, enquanto muita gente prefere choramingar nas mesas dos botecos e no Facebook.

Li, recentemente, um brilhante artigo do historiador israelense Yuval Noah Harari em que ele afirma que o ócio será inevitável para a maior parte da população no futuro. Não haverá vagas de trabalho para todos, a assustadora tendência é que o trabalho será uma possibilidade apenas para uma minoria.

Ele é um sábio e está certo, é um brilhante cientista social, basicamente um historiador. Enquanto suas previsões mais pessimistas - possivelmente realistas - não se concretizam, cada pessoa precisa lutar pelo seu pequeno naco no mercado de trabalho com as armas que encontrararem.

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.