Gentileza

Há pouco mais de 4 anos, no auge da pandemia, época em que a distração dava-se através das redes sociais, decidi seguir perfis que contribuíam, de alguma forma, para minha vida profissional, pessoal, além de entretenimentos saudáveis para a saúde mental.

De lá para cá, acompanho assiduamente professores e comunicadores. Uma delas desenvolveu um projeto de cartas; o envio, que acontece semanalmente, traz no seu conteúdo diversificados assuntos que nos fazem refletir.

Um mês atrás, o tema abordado foi: gentileza. Aquelas palavras, que ficaram ecoando nas minhas ideias, ganharam materialização nesses últimos dias.

Ontem, enquanto esperava na fila do supermercado, uma mulher, que deve contar pouco mais de cinquenta anos, estava atrás de mim. Segurando apenas duas caixinhas de leite, ofereci que passasse à minha frente.

Surpresa com minha atitude, o sorriso receptivo, acompanhado de um caloroso obrigada, mostrou satisfação com meu comportamento.

Ao chegar minha vez, a atendente me perguntou se eu queria aplicar o documento para desconto. Disse-lhe que tentaria, pois não sabia se um cadastro, realizado outrora, fora finalizado. Ela aplicou e, de fato, eu não o concluira. A mesma mulher (ainda guardando seu leite na sacolinha) que há poucos minutos desfrutura da minha cordial ação, prontamente ofereceu colocar seu documento para desconto. Agradeci a gentileza e ela seguiu seu destino.

Hoje, depois de tanto tempo sem enfrentar uma fila de lotérica, fui ao local a pedido de minha mãe. Enquanto esperava - lendo - na fila, uma senhora saiu da parte interna manuseando sua cadeira de rodas elétrica. Cuidadosa no comando, ela seguiu à rampa de acessibilidade da calçada. Num instante, vi dois ou três homens se movimentarem; ao olhar para trás, as rodas da cadeira ficaram presas. Um senhor já estava ajudando-a. O mesmo sorriso grato encontrou forma, também, no rosto daquela senhora.

No caminho de volta à minha casa, fiquei pensativa nas duas situações. Ambas as ações, ainda que sutis e triviais, têm um ingrediente distorcido e tantas vezes dispensado nos dias atuais: a gentileza.

A Lara, professora que escreveu a carta sobre assunto, não escondia sua indignação por não ter vivido, em diversas ocasiões (em especial no tempo da gravidez) uma parcela de gentileza.

Na época de férias, quando eu ouvia com mais frequência podcasts de filosofia, num dos episódios o assunto central era o amor. Os episódios vividos e lido casaram-se com uma palestra ouvida.

O amor, disfarçado no ordinário cotidiano em forma de gentileza, alcança seu objetivo nas ações banais. Um simples gesto de cortesia pode ser o dia ganho de uma pessoa. Constrangedor e acolhedor, o amor - ou caridade, se assim quiseres chamar - é a cura de uma infinidade de males, o sorriso do dia; é a realização do mais nobre gesto já dito, vivido e propagado por Nosso Senhor. Adotemos.

Luciana Arima
Enviado por Luciana Arima em 09/03/2024
Código do texto: T8016003
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