Despedidas

Passou-se o tempo e esqueci com exatidão o ano que era. Tínhamos um Fusca 69 e, em época oportuna, meu pai decidiu vendê-lo. Por mais que eu já tivesse escutado explicações necessárias e suficientes, não me contentei com tais argumentos e resolvi ficar emburrada num canto, isso depois de chorar horrores.

Despedir-se do nosso carrinho, aquele que nos levara a tantos passeios e momentos felizes, parecia um rompimento insuperável, e, talvez eu pensasse que meu mau comportamento resolveria qualquer coisa. Nada feito. Ficou a tristeza estendida por dias, até que eu finalmente me acostumasse com a ausência do "nosso carango", como dizia meu pai.

Apesar de ser uma pessoa cujo temperamento contribui para que eu não guarde minhas inquietações por longos anos, depois de quase vinte deles passados, e com muitos ensinamentos do meu pai guardados, aos vinte e sete entendi que, por mais que as

despedidas são sofridas, é necessário passar por esse processo.

Tive minha fase de esquivar-se de toda e qualquer pessoa e situação que pudesse me alegrar ou amar, pois achava menos doloroso não conviver do que conviver e depois perder. Foi justamente quando precisei dar adeus permanente que acordei para a realidade. A vida passa. A terapia veio me ensinar que ficar presa aos meus medos e inseguranças impedia-me de viver momentos que serão lembrados no período de minha existência.

Conforme fui passando pelos processos e fases, aprendi a saborear e agradecer os gostos doces e salgados; ambos servem tanto para alegrar quanto para e ensinar, e como já dizia meu velho "tudo na vida se acostuma".

O mais relevante, portanto, é que, melhor do que se acostumar, é aprender a lidar conosco, reconhecendo em cada processo nossas fraquezas e virtudes. O melhor de tudo isso é saber que, mesmo que a ausência física nos impeça de ter alguém para quem contar, há sempre com quem contar...e esse alguém está lá em cima, prontinho a nos ajudar.