SERÁ QUE TUDO ISSO É ALEGRIA?

Valéria Gurgel

Será que isso tudo é alegria? Eu te asseguro que não! A alegria não pode ser medida pela mera euforia de três noites e três dias e nada mais. O ano mal começa e ainda precisaremos estar alegres por mais de trezentos dias! Melhor não esbanjar!

 

Risos, ruídos se transformam em semblantes de alegoria. Depois são desmontados e ficam encostados no canto morto do rosto triste, mofando sentimentos mórbidos e nefastos, sem motivos para comemorar a vida ao raiar do dia.

 

Andam roendo nossos lábios! Abafando nossas vozes, desdentando nossas gengivas contaminando nossa emoção misturando nossas lágrimas com suor e cerveja e nem mais sabemos chorar por insatisfação! Tamanha é a decepção! Que alegria forjada seria essa então?

 

Como o povo pode ter alegria em meio à multidão de pesada vibração? Se há inocentes morrendo em guerras, fome, frio, abusos, doenças, desnutrição. São tantos problemas virando crateras sem solução nesse nosso mundo, nessa nossa nação!

 

Não dá para vestir a mesma fantasia rasgada, que já foi costurada, remendada e outra vez bordada. Caras mascaradas, e as miçangas desbotadas já não fixam nas cartas escondidas nas mangas. O colorido da vida está se perdendo caindo pela calçada.

 

O brilho já anda ofuscado, as lantejoulas não aceitam mais serem tolas e coladas no mesmo lugar!

Chega! Acabou. Não aguentamos mais esconder a farsa e sermos palhaços de um circo sem picadeiro, sem plateia, sem aplausos, sem salário, sem valor.

Há milênios, séculos e séculos que essa lona está furada. Assim é como tapar o sol com a peneira. Chega de tanta hipocrisia e besteira.

 

Já é hora de acordar e ter vergonha na cara, pintar a dignidade e a honestidade que andam de pés no chão. Se pensarmos bem, somos corruptos nas pequenas coisas e situações diversas se não prestarmos atenção. Mudarmos nós, primeiro, para que o outro assista à transformação.

A Corrupção sempre teve demanda entre a população.

Não, à desigualdade social. Não, à corrupção! Não, ao péssimo transporte coletivo. Não, à discriminação. Não, à insegurança. Não à falta de oportunidades ao bom cidadão, que estuda, trabalha e quer ser honesto para apenas merecer o seu suado e digno ganha pão!

 

Querer o Carnaval, sim! Com justos e reais motivos para celebrar com euforia quando o viver não for sinônimo de ironia!

Onde o sossego possa morar na consciência tranquila e no coração. E os falsos felizes alados que seguem ao nosso lado não incomodem a falsa baiana, pois ela é apenas aquela que ainda não sabe sambar!

 

Queremos uma festa em nosso país e no mundo, onde todos tenham motivos para comemorar, para deixar de ser profana e poder ser humana. Onde aplaudimos do camarote o bem sobre o mal.

 

A paz sobre a guerra, os povos indígenas, os sem terras e seu direito de existir, de ir e vir. Do Oiapoque ao Chuí, o respeito desfilando na Sapucaí.

O Sambódromo do mundo assistido e aplaudido de pé. E os nossos heróis sem medalhas, sambando em uniformes de gala, os que salvam vidas, que educam, que ensinam, que curam, que limpam, que criam, que alegram, que nos trazem a segurança e a proteção.

 

Esperamos que um dia façam um Carnaval Real. Para a Estrela Dalva no céu despontar. E a lua sim, ficar tonta com tamanho esplendor!

E eu aí sim, vou cantar pelas ruas...

Lindos versos de amor!!!

* Foto da obra do Artista Plástico e Artesão Isaías  Caminha

01 de Março de 2024

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Valéria Cristina Gurgel
Enviado por Valéria Cristina Gurgel em 01/03/2024
Reeditado em 03/03/2024
Código do texto: T8010590
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