Papel vermelho brilhoso
A lua tão linda lá fora e eu aqui dentro. Eu completamente "in". Eu pensando em nós dois. Eu pensando em cortar o cabelo na lua crescente. Eu querendo fazer um sol de papel vermelho brilhoso - uma gigante vermelha. Eu imaginando como esse sol ficaria lindo na parede. Eu pensando em você na montanha. Eu pensando que talvez você nunca volte. Eu pensando que pouco me importa isso também, mas que você ficaria lindo na montanha tocado pelo sol.
Enquanto isso os cachorros brigam na rua e a lua permanece linda, intocável. Mas os pensamentos sobre o sol, você e a montanha se mantém. Eu penso que queria fazer amor com você uma última vez e te entregar os meus segredos mais obscuros - enquanto isso você permanece imóvel montanha.
Esses dias jurei que te vi na rua - não era você, agora entendo que você está longe. Mesmo assim apesar do susto, desejei que fosse você. Enquanto isso a lua lá fora, os pensamentos montanhescos e eu pensando em nós, em você. Penso no futuro que eu inventei - dois filhos, dois gatos, uma casa no mato e algum tipo de fé. Eu pensando no que podíamos ter sido - porém não rolou, porque às vezes não acontece e embora doa também há de cicatrizar.
Enquanto isso me mantenho deitada na cama depois de um dia foda de trabalho. Fico pensando que o meu maior alívio é poder escrever. E que eu poderia escrever um livro - e que talvez eu devesse escrever. Ainda deitada, estudando a possibilidade de fazer um sol vermelho para a parede que me encara - vazia.
Levanto, coloco Letrux para tocar e admiro através da minha janela a lua outra vez. Enquanto isso, reflito sobre o dia, o trabalho e a saudade de alguns amigos. Acendo um palheiro e me perco em meus pensamentos. Pensamentos esses de um tempo em que você chegaria aqui do nada, depois disso já nem lembro mais o que pensava - quando estou meio chapada isso acontece.
Mantenho-me olhando para a parede e penso que o tarot não tem me respondido. Que o fantasma no banheiro, maldito inquilino, finalmente foi embora. Que o armário está bagunçado outra vez. Que a política brasileira é uma merda. Que talvez sumir mundo a fora me faria bem. Mas, de novo volto meus pensamentos a você - fumo mais um pouco para dissipá-los. Sinto um relaxamento e uma fraqueza.
Sento na poltrona, enquanto isso você permanece inerte e mudo em sua montanha. Eu tento afastar esses pensamentos saudosistas. Aceito que esses sentimentos vão se perder, virar luz ou trevas com o tempo. Sei que inevitavelmente irei me apaixonar de novo, que vou sentir falta de outros. Que em alguns finais de noite irei encostar a cabeça e suspirar por alguém que o futuro trará. Mas, cara eu tenho pensado muito em você e no sol de papel vermelho brilhoso.