Material escolar
Nossa sala era a última. Os curtos corredores - que aos olhos da menininha de 6 anos pareciam enormes e infindáveis - levavam rapidamente ao seu destino.
As mesinhas, com suas quatro cadeirinhas coloridas, davam charme e materialização à escola tão ansiada pela garotinha.
O cheiro da lancheira, que fora carinhosamente escolhida, exala ao olfato mesmo depois de vinte e seis anos. O lanche favorito: bolachas recheadas. E estas, foram compartilhadas com os amigos que não tinham hábito de degustá-la, mas o criaram e mantém até hoje. Quem diria. Eu, que hoje cultivo o caminho a uma vida saudável, estimulei aos demais a gulodice.
De tantas lembranças, as quais podem ser facilmente narradas, uma das que mais me tocam são os materiais escolares.
Dia desses, em contato com uma página de humor, o tema do dia era "material escolar". Recordei da minha época. O que eu não imaginava, tampouco supunha, era que mesma adulta teria fissura pelos objetos escolares.
Nossos cadernos brochura, "capa mole", comprados sem discórdia pelo meu pai, eram encapados com o costumeiro plástico. A lista prescrevia: cadernos encapados com plástico xadrez. O favorito de minha mãe era o vermelho. Ela, com seu perfeccionismo irreparável, fazia com que os cadernos ficassem admiráveis, o que gerava pedidos dos vizinhos e tias; "Terê, pode encapar os do meu filho também?".
As sacolas grandes, frágeis a tantos pertences pedidos, não aguentariam um trajeto de bicicleta. O Fusca vermelho ficou pequeno para aquelas elas.
Na sala, os objetos nomeados, distribuídos nas prateleiras de ferro, interpretavam a exposição de um patrimônio inigualável. As vozes encantadoras (das criancinhas) entusiasmadas com tanta riqueza exposta, geravam à circunstância um tesouro a ser explorado.
Nada era mais valioso do que aquilo: as canetinhas, os cadernos, os lápis, as mochilas, as massinhas, as lancheiras. As peças triviais, indispensáveis ao bom andamento da escola, tinham o desígnio memorável: os primeiros passos de uma jornada sem fim.
Os tempos de escola passaram. Vieram outros estudos, os filhos, os sobrinhos, os pertences do trabalho. Achávamos que não mais visitaríamos papelarias e shoppings. Ainda que não o fizéssemos, ao passar pelas vitrines, com suas mochilas de carrinhos, alguns poderiam pensar "era meu sonho ter uma dessa"; outros, sem pestanejar, com vigor exclamariam "a melhor época da minha vida"; e, ao adentrar, certamente escolheriam levar borracha, lapiseira ou caneta, sem intenção de uso, apenas para sentir o cheiro da infância e da saudade.