Cantando na chuva

Longe de ser entendida em arquitetura, tampouco em decoração, vez em sempre observo, com atenção especial, os detalhes.

Detalhes, já disse em outras ocasiões, são os que saltam aos meus olhos; as minúcias, extraordinariamente, ganham meu coração.

Meu saudoso pai, apesar de suas características expansivas, cujos trejeitos irrequietos nos conferiam um homem desatento, jamais pensariam, os demais, tratar-se de um senhor observador. Talvez por isso, seja eu esta espectadora incorrigível.

Minhas idas aos destinos dá-se, com certa frequência, caminhando: eis um convidativo exercício à contemplação, à análise das minudências despercebidas nas nossas rotinas atravancadas.

Nossa cidade, como qualquer outra, conta com sua praça central. Ponto de encontro de amigos e familiares, as adjacências (quase todas) são estabelecimentos alimentícios.

Caminho dos meus destinos - e de muitos - a Praça Matriz é meu ponto de observação. Poderia listar diversos, inclusive memórias afetivas, entretanto meus olhos saltam, sem pejo, aos postes de iluminação, acreditem.

Não, não são os postes comumente encontrados nas ruas; são aqueles redondos, que devem ter um nome específico, acredito, mas que não me foi revelado sem motivo aparente.

Conversando com uma amiga, que entende as minhas peculiaridades, ela relatou ser, também, admiradora das tais colunas.

Entramos num consenso: os banais postes apresentam-se, a nós, com um quê de retrô. "Sinto-me numa novela de época", minha amiga me disse. Eu, obviamente, sou semelhante a ela e além: é como se ouvisse a voz de Don Lockwood, personagem do filme, cantado alegremente seu "singing in the rain".

Essas luminárias (assim as nomeei) decerto guardam inúmeras histórias. As fotos antigas, visitadas nos encontros esporádicos da vida adulta, apontam o postezinho esquecido.

Sua representação vetusta, não deteriorada, graças a Deus, conserva na sua antiguidade a qualidade da memória. Os anos passam, os tempos mudam, as circunstâncias modernizam; porém a alegria das vivências, estas perpetuam.

Luciana Arima
Enviado por Luciana Arima em 20/02/2024
Código do texto: T8003434
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.