As demoras de Deus
Antes da pandemia, a cozinha não era, nem de longe, o meu lugar favorito. Não que eu não tivesse prazer em fazer uma receita, porém porque, quase sempre, ela não saía como o planejado. O bolo não crescia, a torta ficava salgada, o café muito doce, e a minha pouca paciência logo se esvaía.
O tempo de quarentena serviu para que eu provasse não só o sabor das minhas receitas, mas principalmente para perceber que, nas vezes em que eu não acertava alguma, era pelo esquecimento do melhor ingrediente: o amor em servir. Dar-me conta disso, fez com que eu aprendesse a me virar bem com as panelas, até mesmo com a de pressão, que era a mais intimidadora.
Mesmo tendo crescido em entendimento, massas e afazeres, percebi que ali mesmo, no meu dia a dia, podia aprender e adquirir uma das mais difíceis virtudes: a paciência. Cozer o feijão, ferver o leite, sovar o pão, dentre todos os cuidados e constância que nos pedem os alimentos, exigem de nós uma grande paciência.
Afinal, suja louça, desorganiza a cozinha, gasta ingredientes e tempo e, se não tivermos dispostos a enfrentar tudo isso, o resultado pode ser um arroz queimado ou uma fritura crua. Um verdadeiro teste de paciência.
Toda essa reflexão me veio à tona depois de assistir uma live, e foi justamente nela que a mulher dizia que esperar as demoras de Deus é parecido com esse processo de cozinhar.
Nem sempre é sábio colocar no fogo alto só pra ficar pronto mais rápido. Certas receitas e circunstâncias precisam do fogo baixo, da espera, da sova, de colocar a massa para descansar e crescer. O processo de espera, de descanso, de investir tempo, precisa da paciência, da tolerância, da sabedoria, da confiança, já que são justamente estas que farão com que os resultados sejam satisfatórios e saborosos....vale para cozinha, vale para vida.