Debute
Era sua primeira vez, estava tão ansioso que não conseguiu pegar no sono. Antes do galo cantar abriu as janelas, puxou o ar fresco da manhã.
A lâmina parecia pujante em sua mão, tinha vontade própria, quer cumprir seu destino, “sem esforco”, repetiu a dica como mantra. Olhou diretamente nos olhos ansiosos “não vai doer nada”, convence a si mesmo.
Posicionou a lâmina rente a jugular, segurou a respiração ofegante, o pescoço parou de se mexer. A lâmina, obediente, desfilava como numa pista de gelo, tentou conter a euforia para não perder o foco.
Subito, um miado agudo o assustou.
“Merda!” O sangue escorreu pela mão. Ia morrer? Tão jovem assim? Instintivamente, encara os olhos ansiosos, dessa vez a imagem está embaçada diante de si, queria entrar em pânico. De repente o mundo girou, a respiração descontrolou, precisou se apoiar para não escorregar no chão gelado e impessoal, o líquido rubro continuava escorrendo do pescoço, não havia outra solução, precisava de ajuda.
“Mãe, me cortei!”