A HONESTIDADE DE BENGALA
Valéria Gurgel
Antes ela circulava solta por aí, entre cidadãos de bem, de todas as idades, etnias e classes sociais.
Entrava e saia de dentro das casas pela porta da frente. Nos lares, dos mais humildes aos mais requintados. Estava sempre presente nas vendas, nas farmácias, no comércio local. Andou muito tempo pelas vilas e praças, passeou pelas indústrias, por pequenas e grandes empresas.
Foi batizada e enaltecida nos púlpitos, nos altares das igrejas, templos, sinagogas, mesquitas. Em algumas Câmaras Municipais, no Plenário, no Planalto Central, em Castelos da Monarquia.
Ela caminhava em passos lentos e seguros pelas feiras, escolas, hospitais. Reinava tranquila na zona rural com a gente simples do campo. E nem precisava ser alfabetizada, pois os acordos eram firmados por um forte aperto de mãos, olho no olho e um fio arrancado dos bigodes.
Os anos se passaram a tecnologia chegou, tudo se modernizou, se informatizou e se transformou. E hoje ela se arrasta por entre uma sociedade enferma, contaminada pela hostilidade, falta de ética e de pudor.
A honestidade vem sendo diluída em grandes proporções no veneno corrosivo da desobediência, do egoísmo e do desrespeito. Onde a base pura e límpida do caráter já não tem valor moral nem comercial.
A honestidade está de bengala, se apoiando para não se desabar por completo ao chão, ou cair em processo de extinção.
Essa preciosa virtude, outrora tão honrada, precisa voltar a caminhar por suas próprias pernas, porque próteses para caras de pau sempre deixam muitos mancos, para o resto da vida!
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