A senhora e a calçada
Todas as tardes eu tinha o costume de sair, e uma dessas saídas na segunda rua tinha duas senhorinhas sentadas no batente de suas casas conversando alegremente.
Cada vez que eu saia via as duas mas em alguns momentos ficara lá apenas uma senhorinha olhando para o céu vendo os pássaros e sentido o vento, chamo essa passagem de solitude. Me sentia em paz quando a via sentada no cantinho de sempre foi quando ela me parou.
Sem graça eu fiquei, a ouvi falar baixinho.
- Oi moça bonita, desculpe atrapalhar o seu pensamento mas outra vez que passou por aqui a vi com um livro na mão que parecia interessante...
Dei um pouco mais de tempo para ver se ela falava mais alguma coisa, então respondi:
- Sim! Um livro encantador.
- Era sobre o quê?
- São várias histórias de vida, o autor do livro é nacional, aqui do Brasil.
Nisso, sentei na calçada, ela estava em uma cadeira de balanço balançando sem parar enquanto conversávamos.
Como de costume, estava com um livro na mão mas não era o mesmo que ela vira, então abri em uma parte do início e falei para ela que essa era uma das melhores crônicas que já li, então comecei a contar a crônica para ela.
Quando conclui a crônica ela olhou para mim e de um momento para outro limpou os olhos com as costas da mão e falou
- Ninguém nunca parou para ler algo para mim, estou emocionada - entre silencios curtos - Você sabe o porquê eu fico sentada aqui?
- Não senhora - Retruquei -
- Já faz anos que me sento aqui, olho os pássaros, vejo as pessoas conversando e o mais incrível momento que esse ano me deu foi quando vi você na primeira vez, lendo descontraídamente um livro no meio da rua. - Ela falou a última frase com um impacto enorme como se fosse algo de se admirar.
Enquanto ela me falava sobre as várias histórias que ouvia as pessoas comentando na rua eu me esvaia em pensamentos.
Se bem que nunca vi ninguém nessa rua ou em outra andando e lendo livros. Aqui isso não é comum, eu a entendo. A literatura em algumas ruas é escassa e isso me entristece muito.
Ela me cutucou me chamando a atenção.
- Então, você apareceu... - Olhou para mim esperando uma resposta, os olhos da senhora brilhavam e eu me senti feliz por fazer parte da história dela.