Mãe, obra de Deus
Era sábado ou domingo. Nossa casa estava cheia: de gente, de comidas, de barulhos, de histórias. Não muito tempo mais tarde, teríamos mais uma para contar.
Eu estava com quatro anos e não recordo, com exatidão, o que se sucedeu aos suspeitos movimentos e aflições quando começaram a acudir o meu irmão. Lembro de tê-lo visto engatinhando, e depois disso, só lembro da casa mais vazia. Vazia porque todos correram para levar o caçulinha ao hospital.
O fato? Nas explorações que todas criancinhas fazem, Igor foi até o fogão e colocou as mãozinhas no forno quente que assava o pão do café da tarde. Quando nossa mãe viu, ele não chorava, mas a cara demonstrava que doía. Ela prontamente o acudiu, levou ao hospital, fizeram todos os procedimentos necessários.
Por longos anos, a marca ainda residia na mão do meu irmão. Um imenso susto, sabemos, e todas as vezes que dona Tetê nos narra, vê-se claramente quão difícil foram aqueles momentos: "mãe sofre de todo jeito", ela sempre diz. Ela sofreu porque vira o bebê queimar a mão; sofreu por deixar os demais filhos aqui; sofreu porque não sabia o que fazer na hora do desespero. Parecia impossível socorrer tantos e tudo ao mesmo tempo.
Esse tipo de episódio me faz ter certeza de que as mães são, sem sombra de dúvidas, seres divinos. Foram escolhidas e agraciadas para gerar vidas, e com isso, doar tudo o que de melhor possuem para acolher toda a prole até nos mais incertos momentos.
Vejo mãe como uma espécie da extensão do amor Supremo; é o amor que perdoa, que ensina, que repreende e que acolhe.
Passam-se anos, vencem-se as batalhas, chegam outras. As mães, estão sempre ali, próximas a aplaudir e ajoelhar em toda circunstância advinda, sendo o socorro de Deus na vida dos que amam; isso não se limita aos cônjuges e filhos, mas também aos netos, sobrinhos, irmãos e até, acreditem, aos animaizinhos.
Onde tocam, deixam amor, exalam caridade e ensinam superioridade; não aquela soberba, orgulhosa, mas aquela transcendente, cujo toque vem do céu, trazendo consigo a beleza, a fascinação, a magnanimidade...ah, mãe é obra de Deus!