A partir das pequenas coisas
Nas últimas semanas, dadas as circunstâncias, tenho tido a oportunidade de vivenciar, semanalmente, contato direto com a natureza.
Apesar de ter crescido num ambiente rodeado de bichinhos, árvores e afins, meu caráter - talvez por ironia ou desleixo - é urbano.
Desde criança, sempre achei curiosa a paixão (inquestionável) que meu irmão tem por galinhas. Enquanto algumas pessoas desejavam cachorrinhos, gatos ou peixes, o caçulinha montava, animado, sua granja.
Dia desses, conversando com uma amiga, ela disse achar admirável esse gosto, ainda que o julgue peculiar. Questionando meu irmão, ele relatou que o mesmo vínculo que é formado com caninos e felinos, dá-se também com as aves.
Pude ver, hoje, ao vivo e a cores uma imagem antes formada apenas no meu imaginário. Diversas vezes ouvi que as galinhas, para defender seus pintinhos, abrem suas asas para os filhotes abrigarem-se embaixo.
Parecia-me uma figura natural, e é, mas para quem nunca tinha presenciado, mesmo crescendo numa casa cujo quintal abrigou diversas penosas, foi uma cena inesquecível.
As asas, que nos parecem tão frágeis e pequenas, moveram-se numa velocidade incrível, formando um leque de proteção e abrigo aos inofensivos filhotinhos.
Ocorreram-me inúmeras constatações, as quais ganharão, sem dúvidas, prolixas conversas com minhas amigas. Lembrei-me, curiosamente, de um trecho de Eduardo Galeano: "a partir das pequenas coisas é possível olhar os grandes mistérios da vida".
Quantas assimilações podem nos oferecer o olhar atento e curioso às imagens ao nosso redor? De fato, esses momentos de contemplação nos permitem não só despertar para questões internas, como também concentrar de beleza o nosso imaginário.
Nesse mundo frenético, cuja rotina parece escorrer por entre os dedos, drenando impiedosamente nosso precioso tempo, essas experiências são, indiscutivelmente, as que enaltecem e edificam a nossa alma.