O rio do por acaso (BVIW)

Andar passos por acaso, como se todos os minutos fossem ócio, tentativas inconscientes de encontrar o que nem sei o quê. Penso que assim a vida vai gerando dias, que se configuram idades, sem que o relógio se dê conta de que marcá-la é mera formalidade entre os vivos.

Alguns de nós percebem que transcendência é perder-se entre esses minutos sem contá-los. Outros, passam a vida somando e diminuindo tempo, como se isso fosse capaz de represá-la. Não por acaso, o tal tempo escorre como quer, sem se deixar captar.

Assim, uma foto não capta o tempo. Apenas registra um momento que não existirá mais no mesmo instante em que foi fichado pela máquina. Saudosistas tentam fazer de fotos uma porta de retorno no tempo. Esquecem que este, também não por acaso, é rio que corre da gente.

Chego a pensar que a vida, em si, dá-se por acaso. Fruto de encontros e desencontros de linhas emaranhadas numa caixa de costura. Dá-se em tantas e variadas circunstâncias, que o melhor a fazer é cada qual entender-se barco e correr junto com o rio.