A Esperança do Diálogo

(12/2016)

 

 

CONTAGEM REGRESSIVA

 

  • Ei, você. Já vai?
  • Senta aí e vamos tomar mais uma.

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Obrigado.

Não tenho mais tempo para beber.

Já dei meu último gole. 

  • Porque essa pressa?
  • Olha quanta coisa ainda está acontecendo.
  • Vamos partilhar isso aqui.

 

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Põe na minha conta, acho que é justo.

 

  • Espera, fica mais um pouco, ainda dá pra fazer alguma coisa e melhorar seu astral.

 

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Não dá, estou cansado.

Pelo tempo, e de tanto que falaram mal de mim.

 

  • É, eu sei que voce não fez muito sucesso.
  • Mas isso não quer dizer que tudo esteja perdido.

 

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Mas foi difícil.

 

  • Eu sei que por baixo dos panos rolaram muitas coisas escusas.

 

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Teve dias em que eu só ouvia gritos de fora, basta, chega, vai embora, já deu.

 

  • Não foi só isso.
  • Vi abraços e beijos, vi você dançando e cantando, brincando sentado no chão.

 

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Doeu.

 

  • Olha, você chegou como um filho.
  • Virou pai.
  • E avô.

 

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Mesmo assim, doeu muito.

 

  • Não foi por você.
  • Tá certo.
  • Foi você quem trouxe aquilo tudo, mas você sabe que foi a pedido.
  • Chamaram por você antes de te virar as costas.

 

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Não tem jeito, tenho que ir.

Até porque há quem diga que no meu lugar vai haver alguém melhor.

Me esforcei para deixar boas lembranças. Foi o que deu pra fazer.

 

  • Não parte triste não.
  • Olha, se vai embora vai com alegria e festa, e põe na conta da experiência, deixando brilho na hora de partir.
  • Mas faz um favor, ilumina sem fazer barulho.
  • É que chegou aqui um recém-nascido e ele ainda está dormindo.

 

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Que gracinha.

A chegada de uma criança é sempre o início de um novo sonho.

Ele já vai acordar.

 

  • É verdade.
  • Fica e sonha com a gente.

 

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Não posso.

Quando ele acordar dá um beijo meu e diz do meu desejo de um ano feliz.

Talvez a gente só se veja de relance.

 

 

 

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