O OCO DO TEMPO

Viver: fazer-se notar ou deixar inesquecível?

Publicar o dia. Acorda. Almoça. Banho e dorme.

Quem nunca?

O vazio estrangula a percepção de quem somos: sonhamo-nos tanto, pensamo-nos tudo, achamo-nos.

Mas o mundo esquece. O nosso destino é ser mesmo ninguém.

Para quem? Talvez. Alguém. Algum sujeito ainda contará a história que nunca vivemos como sendo.

Ou seja: seremos sempre personagem do verdadeiro conto que jamais existiu.

Preenchemos espaços que quando saímos ainda estarão lá,

Aguardando outra vítima

Do tempo oco, da sombra sem dono, do sono de alguém que acabou de acordar.

Pretendemos ser quem nunca seremos. Sabemos nossos respectivos tamanhos. Quem aceita?

Queremos mais, sempre mais!

Ensinam que se é o que se quer.

Desejei voar, mas humanos não são alados.

Almejei transparência, indesejavelmente notam meus piores momentos.

Implorei riquezas e acumulei desaforos.

Desaprendi a querer o que nos ensinaram a querer,

Desumanizei-me,

Tornei-me o que pude: esqueci.

Quem nota quem sou, o que somos? Quem de fato é inesquecível?

Isso aqui não é uma crônica, mas a realidade aguda.

Apaguei tudo o que publiquei. A não ser o que nos obrigam as burocracias, pois essas não desgrudam de nós.

Arrependi: que metade era muito e o todo tão pouco,

Demorei tanto a perceber

Que o tempo não é minha história

Mas o tanto que ainda há por vir.