FEIZ NATAL, OTELINO
(22/12/09)

 

E aí ?

 

Agradecer a Deus

 

Mais um ano,

votos de esperança,

desejos de boas festas,

cartões.

Tudo igual.

 

A mesmice me incomoda.

 

Fico torcendo pelos imprevistos que desviam meu caminho certo, pelas bifurcações que se auto-definem e me lançam para um novo, um inquieto talvez de coisas boas.

 

Mesmo com pé atrás, sempre acreditei que quando isto acontece é porque alguém, guia invisível do meu destino, me reserva melhores momentos, mais avivamento.

 

Toda segunda-feira desço com a família, da minha casa até o VARANDAS, um restaurante da Rua das Laranjeiras, porque é dia de promoção de Pizza e de encontrar rostos conhecidos.

 

Hoje foi um desses dias bifurcados, e um amigo chamou para comer bolinho de bacalhau num bar da Rua Gago Coutinho.

 

A relutância inicial, um paradoxo do avesso à mesmice, cantava no meu ouvido:

 

“Se é Canto de Ossanha, não vá...”

 

Eu fui.

 

Quando entrei me aguardavam os amigos, e o inquieto talvez se concretizou na presença de um grupo de cantores, um coral, a regente ao violão, Vinicius esmorecendo e Caetano surgindo:

 

“Onde está você agora?”

 

O grupo de muitas vozes femininas tinha a companhia de três possantes timbres masculinos. Passei a olhar um por um, para ouvir um por um, e me deparei com um rosto conhecido, uma emoção conhecida: Filho, Neto, Irmão, Reencarnação?

 

Alma de Otelino.

 

Otelino, médico, negro, lutador.

Música, cerveja.

Amigo.

Inquieto, talvez.

 

Saíamos da Santa Casa e os nossos destinos, nossa medicina e nossa alegria, passeavam entre a casa da Sheila, os bares da Beira Mar, os amarelinhos da nossa Glória.

Reginas, Ronaldos, Ricardos, Sônia, Silvana, Walter, Rogério e tantos mais.

 

Descubro-me agora um homem com pouca memória, tênues lembranças, embora solidamente formado por todas as emoções que revestiram cada evento da minha vida.

 

 

O “meu Otelino” ainda está lá cantando, como se estivesse lendo meus sentimentos:

 

“É doce morrer no mar ...”

 

 

 

E assim se passou a noite.

 

Eu precisava escrever alguma coisa para enviar aos amigos.

Que não fosse igual a todo Natal.

 

Mesmo aos que não viveram estes momentos.

Mesmo aos que não fizeram parte da medicina da UFRJ de 1977.

 

 

 

Amigos que também não precisam de lembranças para reconhecer emoções.

 

Fico feliz por ter tido esta oportunidade.

 

A de desejar, com a enorme emoção que hoje me avivou, todas as incertas possibilidades de um novo ano.

 

 

Um minuto de silencio,

apenas para ouvir boa música.

No fim, aplausos a todos nós.

À 2010.

 

 

 

“Minha jangada vai sair pro mar,

vou trabalhar, meu bem querer.

Se Deus quiser quando eu voltar do mar,

Um peixe bom eu vou trazer.

Meus companheiros também vão voltar,

 

e....”   

 

 

 

Sergio Castiglione