O transeunte

Indagações vem a minha cabeça quando despretensiosamente eu vagueio, me esgueirando entre transeuntes urbanos.

Aquela senhora perece tão triste, será que está passando por alguma coisa?

Aquele jovem está com um olhar sombrio, será que brigou ou pretende brigar com alguém? Ou será que irá anunciar um assalto aquele coletivo?

Carros passam velozmente por mim, alguns com músicas altas e de gosto duvidoso, o efeito doppler evidencia os graves e cria uma sensação de desaceleração temporal.

Multidões de pessoas com cabeças levemente inclinadas para baixo vislumbram flashes desses aparelhos que se tornaram essenciais, onde está toda a informação e toda distração fútil.

Alguém passa pedindo esmolas, mas hoje em dia o dinheiro não é mais de papel ou metal e a compaixão se esfriou o bastante para que essa pessoa não passe de um espectro, um vulto incomodo que desejamos que se desapareça.

As paisagens desses lugares já contam com essas figuras, estáticas, decadentes, como em um zoológico mórbido onde a miséria é o ingresso à jaula dos desafortunados.

Não sei se me orgulho muito desse mundo que criamos, me vejo como um desses transeuntes que passam apressados de um lugar para outro, não sabendo direito onde se estabelecer, pensando na situação dos outros de forma bem rasa.

Me projeto para um futuro muito incerto, lutando para não se tornar um desses espectros que ao poucos vão desaparecendo, aos poucos vão virando paisagem.

Lipe Souza
Enviado por Lipe Souza em 10/12/2023
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