Adeus, ano velho. A Deus o novo ano
*Lembrança desse texto, escrito em 2020, que me apareceu.
Pouco me espanta pensar que passei boa (ou quase toda) parte do tão atípico 2020 dentro de casa. O meu lar sempre foi o lugar que mais fiquei nos meus 29 anos.
Uma primeira fase porque era criança; uma segunda fase porque cuidava do meu pai; uma terceira fase porque estudava e trabalhava. Sobrava, então, pouco tempo para que eu me ocupasse com outras coisas. Poderia ser uma ingrata, e murmurar por não ter aproveitado mais os dias passados. Mas não.
Mesmo quando vivia tudo aquilo, inconscientemente sabia que poderia não ser o que eu queria, mas certamente era o que eu precisava. E foi justamente no vinte/vinte que vieram algumas respostas das perguntas que eu nem mesmo fazia, mas que sempre existiram em algum ponto do meu íntimo.
Conversando com minha prima, contei sobre a inquietação que alguns tinham por acreditar que os meus anos mais desafiadores não foram os que mais cansei. Passei a entender que os meus atos não eram simplesmente uma obrigação, mas uma serventia. E, fazê-los com amor, mesmo que às vezes me sentia cansada ou até irritada (afinal sou pó e barro) permitiam-me pouca lamentação.
Poderia listar várias coisas boas que esse ano me trouxe e, entristeço-me pelos danos causados, mas, de tudo isso, o que levo é um lema que há anos insisto em me habituar: não temos o controle de nada. Justamente por ser ciente disso, acho que talvez eu nunca tenha parado, verdadeiramente, para fazer grandes planos. Quando tomei consciência de que, por mais que levemos à risca as metas traçadas, a vida, de alguma forma, vem ensinar que mais importante do que sonhos checados são entregá-los Àquele que pode realizar bem mais do que supomos ou esperamos.
Não é de hoje que luto com essa máxima de me abandonar ao que Deus planeja. A minha batalha de querer as coisas rápidas, sem permitir que elas fecundem, sempre foi uma das minhas maiores lutas.
Entretanto, de forma amorosa, Deus sempre me trouxe, mesmo que não instantâneo, respostas e, obviamente, situações para que eu crescesse e adquirisse virtudes.
Levo desse ano o aprendizado de que a vida pode mudar-se inesperadamente. Levo muitas leituras, alguns questionamentos e outras certezas. Levo o desejo de querer melhorar mais, de querer amar mais, de querer ser mais e melhor do que posso ser. Levo a fé, mesmo que pequena, de que Deus está tomando conta de tudo e todos, e que seus planos, como sempre, são os melhores que poderíamos imaginar.
Porém, antes disso tudo, levo gravado em meu coração aquilo que sempre quis e precisava ser, mas que levaram anos para que eu pudesse, enfim, declarar: "faça-se em mim segundo a tua vontade". Que o belo, o amor, a fortaleza, a caridade e todas as possíveis virtudes me acompanhem, junto à minha fé, todos os dias.