CORDÕES

CORDÕES

Tá certo.

Podem dizer que eu tive, ou tenho, uma infância estendida.

Pediatra é assim mesmo, criança pra sempre.

Ou brinca ou não desce pro play, que é a sala de espera do consultório.

E não cura.

É verdade que o lúdico fez parte da minha formação, com uma intensidade (hoje escassa) de cantigas noturnas de mãe, meio-fios de rua, e viagens pra roça.

E bota mãe nisso.

Do cordão que se mantém ligado, enganando os tolos que acham que o cortaram logo após o nascimento, passa um fluxo contínuo, diário, incontrolável, imperceptível tanto quanto gigantesco, de energia vital.

E de sorrisos.

E de felicidade.

E fé.

Os cordões umbilicais habitam dimensões que não vislumbramos, fortes, entrelaçados, emaranhados, e dirigidos a nós por linhas pontilhadas.

De dias. De noites.

De sonhos.

Também tenho a meu favor o nascimento “precoce” de um filho em 1980 e de uma filha em 1982.

Falcon e Pequenos Pôneis sempre estiveram presentes.

Disputando espaço com o Nacional Kid e o Batman.

Então está justificada a repetição de uma musiquinha que há dias não sai da minha cabeça.

Quando sentei para escrever, pensava em antepor passado e presente em versos críticos.

Comparar nossas infâncias de Bebês com as infâncias BBBs dos nossos filhos.

Em casa, pela manhã, orei mais uma vez por um dia de bom humor.

E dizia para minha sogra:

“Sempre rir, sempre rir. Pra viver é melhor sempre rir”.

Lembrei do Bozo.

Do papai (Papudo).

Da vovó (Mafalda).

Dos meus filhos.

Da minha mãe, para a qual não declino nome.

Qualquer nome, chamado mãe, tem a mesma força.

Pois delas vêm os cordões.

Que amarram a crônica fugidia que escrevi.