Pequenas conquistas
De vez em quando acontecem aqueles encontros. Se já eram difíceis antes, hoje então nem se fala. Domingo costumava ser o dia do alvoroço: mesa farta, altas risadas, churrasquinho, crianças correndo e chorando, só alegria. Depois de adultos, os encontros são mais frequentes nos casamentos.
Minha tia, minha prima e eu fomos lá na casa do tio para colhermos jabuticaba. As árvores estão carregadas, lindas, prontas para serem recolhidas com todo amor e paixão pelos amantes da fruta. É a minha favorita, admito.
Abrigadas ao pé, começamos a degustação. "Como é que você engole o caroço, filha de Deus? Eu não consigo" - minha prima diz. "Consigo, sorrio e agradeço; para mim é uma pequena conquista".
Quando era criança, lá pelos 10, 11 anos tinha dificuldade em engolir remédios, por menores que fossem. Era necessário enfiar lá na goela, que trabalheira, e ainda ficava com aquela sensação de "oh, meu Deus, vou engasgar a qualquer momento".
Era assim também com a jabuticaba. E como eu lamentava! Tinha um ciúmes de quem apreciava com tanta naturalidade. Quando finalmente consegui, passei a sorrir a cada comprimido tomado e jabuticaba degustada.
Talvez por isso tenho se tornado a favorita; não só pela doce sabor da fruta, mas pelo doce sabor da pequena conquista. Algo tão ínfimo, bobo até, mas que me recorda uma história bacana e engraçada, daquela a ser contada nos almoços em família, que, enquanto não chega, conto aos poucos nos pés de fruta. E nas crônicas.