Crônicas da Fazenda da Grama (I)
O SORRISO DE UM LAGARTO
(Crônicas da Fazenda da Grama)
Há uma música de fundo.
Sempre há uma música, de fundo, do fundo, da alma.
A de hoje vem de inacreditável mistura de estilos numa boa radiofrequência Volta Redonda.
Como se fosse uma colher de pau, misturando o mais delicioso doce, remexe os sentimentos felizes da minha solidão de hoje.
Solidão, não tão grande.
Madazinha, silenciosa, me serve de pastel e Stela Artois.
Abelhas minúsculas, entram e saem do tronco que sustenta o telhado, num bailado que faria o mais experiente controlador de tráfego aéreo babar.
E o vento deste inverno, nem tão frio mas muito seco, de uma luminosidade outonal, se estende e se contrai como manto que oferece às alternâncias de meus pensamentos o respaldo e o refugo.
Hoje minha solidão está feliz.
Porque reconheço meus amigos, minha existência, a vida dos meus filhos, a continuidade dos meus netos, aquilo que proporciono e participo.
Porque o canto é sertanejo, porque minha mulher é uma linda pessoa, porque outra Stela vem chegando.
Porque um pequeno e camaleônico lagarto me espreita.
E sorri para mim.