Cada um no seu lugarzinho
Quando perdi meu pai sabia que a vida seria diferente. Ela seguiria seu curso, obviamente, mas a visão e o coração se modificariam tanto quanto a rotina.
A princípio acreditava que aquela dor ficaria pra sempre e que os meus sorrisos jamais seriam alegres. Achei também que aquele pedacinho que fora embora junto com ele ficaria vazio.
E sem saber, eu estava certa. Foi na terapia que descobri que o lugar do pai não poderia ser substituído. Ele seria e será dele. Não adiantaria outros amores ou sabores, a repartição Silvio não ganharia novo dono. O lugarzinho da mãe é da mãe, do pai é do pai, do filho é do filho.
Pensando nisso, fiz aquelas ideias profundas, um pouco férteis, e talvez desconexas, concordo, até chegar na comparação de que o amor de Deus por nós é, para mim, exatamente assim.
Sendo nós seres humanos, constantemente falhos e errantes, não somos - felizmente - substituíveis para Aquele Maior que sempre nos amou. Muitas vezes, deixamos nossa repartição e abandonamos ou desprezamos o amor gigante de quem nos abraça e acolhe com a doçura e entusiasmo da primeira vez.
Porque a vez é sempre única e nós sempre os primeiros. Deixamos, é verdade, muitas vezes o nosso Pai em segundo, terceiro, sabe-se lá em qual plano.
Mas Ele, bom como é, está sempre e amorosamente nos esperando voltar como um filho pródigo para os braços seguros do pai.
As pessoas se vão, a vida esvai-se, os lugares, únicos, não são substituídos; são, exclusivamente, nosso. Cada um no seu lugarzinho. Tal qual nosso relacionamento com o Ser Divino. Se ter um pai terreno memorável é insubstituível, ter o amor presente do pai eterno é uma glória.