União da discórdia
Quem nunca reclamou de algum estudo na escola? Vire e mexe, ouço o velho bordão repetido, incansavelmente, pelos alunos: "por que devo estudar isso se nunca vou usar na vida?". Por mais que demos respostas, os argumentos quase nunca convencem. A comprovação vem depois de anos, muitas vezes nas situações corriqueiras que passam despercebidas nesse mundo frenético de tarefas.
Dia desses, enquanto conversava com as amigas a respeito de figuras de linguagem, elas me perguntavam sobre aquelas esquecidas, pouco utilizadas, presentes - parece - só nos vestibulares e concursos da vida.
Seus nomes, assustadores àqueles que têm aversão pela Língua Portuguesa, causam um embaralho quando se apresentam nas poesias.
Apaixonada incorrigível pela minha língua materna, sou suspeita para descrever os motivos pelos quais defendo e amo meu idioma - mesmo com todos os seus detalhes que conseguem deixar-nos de cabelo em pé.
Essa semana, temos tido dias de calor intenso. Não é raro ver, nas redes sociais, inúmeras manifestações a respeito da temperatura; há sempre algo a ser exposto, ainda que a exposição não tenha um fim objetivo. Muitos usam-na (a rede social) como ambiente de troca de informações, entretenimento, flerte, trabalho e, até, instrumento de vínculo.
Como amante, também incorrigível, do inverno, pertenço ao time daqueles que têm dispensado todo tipo de lamúria pelo sol esturricante e calor incontroverso. As postagens não pararam: todos os dias, alguém ranzinza grita aos quatro ventos - que por sinal, está igualmente quente e pouco fresco - a inconformidade com a temperatura.
Ontem, vendo uma dessas postagens, não hesitei em ler alguns comentários; estes, estavam divididos entre os que, mesmo com os quarenta e cinquenta graus, sorriem felizes pelo sol primaveril e os que se lamentam, e saudosos clamam pelo inverno intenso.
Isso nos mostra o que já sabemos e sempre esquecemos: não há qualquer possibilidade de agrado em sua totalidade. Ainda que alguns digam que nós, seres humanos, nunca estamos satisfeitos (temos aqui um ponto a ser explorado, porque este não pode ser generalizado), concluímos que, na verdade, vivemos num mundo de convergências e divergências.
Os assuntos, quaisquer que sejam, podem facilmente tornar-se uma mesa de união da discórdia. Não disse que os estudos escolares estavam inseridos no nosso dia a dia sem que percebêssemos? Eis aqui um paradoxo.
Como pode uma palavra, cuja definição liga as pessoas, estar adentrada num contexto em que há outra palavra, com definição em desacordo? Um claro enigma, ou seja, um lindo paradoxo.
Não nos descabelemos, meus caros. Por mais que tenhamos antíteses, metáforas, catacreses, e etceteras, aproveitemos essa roda de discórdia - sem muita hipérbole - para dividir os desabafos, a pizza e chope: com moderação e sem ironias, por favor.