As canções que você fez para mim
O fim do ano se aproxima. Essa época, uma das mais bonitas dos doze meses para muitos, para mim, portanto, desperta-me saudade. Saudade do que já vivi, do que não vivi e do quê, muitas vezes, não sei explicar.
Talvez eu seja saudosista, ainda que procure argumentos que justifiquem as minhas falas. Não nego que lembrar-me das vivências me traz uma espécie de conforto.
Todos nós passamos, em algum momento, por perdas dos entes queridos: irreparáveis e indescritíveis são, porém para alguns, recordar é uma forma de amenizar a dor da ausência.
Poucas vezes sonhei com meu pai. Nos sonhos eu o via são, feliz e sorridente. Por alguma razão (desconfio que seja pela fato de ser convidada a escrever uma canção) acordei com uma música na cabeça e a sua imagem nitidamente desenhada num olhar atento ao segurar o microfone. Sua voz não cantava, ainda, mas ao fundo alguém anunciava "as canções que você fez para mim".
Papai não escrevia canções destinadas às declarações; antes, distribuía seu afeto em tempo de qualidade e sorriso faceiro. Vez ou outra, explorava sua brilhante criatividade produzindo paródias irônicas e piadas.
Em vida, soube fazer da sua existência uma canção a ser sempre repercutida. Talvez ele não tenha conseguido mensurar a grandeza da sua biografia e de como ela nos transformou.
Hoje não ouço as canções que você fez para mim, mas ouço as que cantou, as que gravou e os ensinamentos sábios que me deixou.
Numa voz dissonante, entretanto sincera e saudosa, emito e repito que "sem você o meu mundo é diferente"; é triste viver sem o senhor, porém é uma felicidade imensa saber que juntos vivemos momentos que eternizaram em canções, fotografias e crônicas.