Dúvidas cruéis que nos atormentam
Meus anos de estudos - que contaram três - na faculdade de Letras foram marcados por diversas situações, amizades e frases. Essa fase, considerada uma das mais felizes da minha vida, até hoje me traz memórias e uma saudade imensa, o que me faz ter certeza de que foi um caminho de Deus.
Apesar de ter entrado quase no final do primeiro mês do curso, já de cara fui atarefada com inúmeras leituras e estudos, e lembro, como se fosse hoje, da primeira aula.
As mestras - duas, naquele dia - apresentavam-nos livros e poemas a serem lidos: a primeira análise vista em sala foi uma canção de Caetano Veloso, numa belíssima letra exaltando nossa língua; na aula de literatura, foi-nos pedido que lêssemos Senhora, de José de Alencar.
Esta professora, a de literatura, marcou-me profundamente, não só pela sua paixão indiscutível pelos livros e linguagem, mas principalmente pela sua postura, firmeza e doce olhar à vida. Até hoje, quando volto a ler "A valsa", de Casimiro de Abreu, ouço sua exclamação aprazível e marcante, dando vida a um poema tão gracioso e rico.
Dentre muitas lembranças a serem amavelmente recordadas, vez em sempre me vêm à mente a envolvente e divertida frase: "dúvidas cruéis que vos atormentam?". Ela assim dizia, toda vez que acabava de explicar alguma matéria. Eu achava elegante, e acabei por aderir esporadicamente ao explicar qualquer coisa a alguém.
Essa semana, enquanto passava na minha consulta mensal, num papo descontraído, apesar de profundo, eu e minha doutora falávamos de questões e mistérios da vida, da nossa mente e de como as dúvidas, muitas vezes, sim, atormentam-nos.
Sendo a mente, o condutor material da nossa existência, quase não damos-lhe a devida atenção; quando se faz terapia, percebe-se que a "cuca" é responsável pelas mais diversas -e até - desconexas ideias.
Além disso, sabemos que a cachola, se saudavelmente alimentada, traz-nos paz e sabedoria; assim como diz Paulo em sua carta aos Romanos, "transformai-vos pela renovação da vossa mente para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".
A mente, essa poderosa faculdade que Deus nos presenteou, foi dispensada como uma dádiva para honra e glória do Seu Nome; se elevada e alimentada em bem genuíno e benevolente, permite-nos saborear a grandeza e segredos por Ele antes pensados, afinal, diz o Senhor: " Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais".