Uma Vida de Circo - Epílogo
HOJE ESTOU NO CÉU
Resido em Divinópolis, a terra do Divino. Terra que escolhi por adoção e que amo com paixão. Aqui criei meus filhos e raízes. Voltei a fazer teatro e tenho muitos colegas e amigos que estimo. Quase todos são artistas e escritores. Vivo no mundo da poesia, um mundo em que gostaria de ter vivido sempre. Tenho cinco filhos, treze netos e uma bisneta que são a minha grande riqueza. A vida não é uma espécie de serpentina que vai desenrolando sempre igual, apenas ficando mais gasta com o passar dos anos. A vida, a gente descobre mais tarde, é uma soma de muitas etapas do amadurecimento podendo sempre se recomeçar.
Agora vivo sozinha. Aprendi a viver só. Parei de achar que a vida em comum é a única que existe. Descobri vantagem de ser livre para viver como bem entendo, para ir aonde quero e cuidar de mim mesma e em primeiro lugar.
Estou com 89 anos e a verdade é que sou feliz!
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Este livro para mim é uma glória. Não pensei em chegar a tanto. É um ato de topete e coragem de minha parte desnudar-me perante o público. Olho para trás e vejo esta grande bagagem e digo:
- O brinquedo terminou!
Hoje não viajo mais no circo,
não trabalho no trapézio
não faço deslocação.
Hoje esse tempo é bem distante.
Eu me perco num instante
em que faço uma oração.
Agora não sou mais criança
que vivia de esperança.
O brinquedo terminou.
Meus cabelos branqueando.
É a vida que passou.
(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)