Uma Vida de Circo XXIII
O IMPREVISÍVEL
Eu já me sentia totalmente feliz com os filhos por perto. Era o que eu mais queria.
Uma manhã do mês de setembro de 1982, meu filho Antônio Carlos me disse:
- Minha mãe, vou dar-lhe uma boa notícia que a senhora vai gostar muito. Hoje, eu vou fazer minha última viagem ( era viajante vendedor de livros).
Respondi:
- Que bom! Todas as vezes que você sai para viajar, eu fico com o coração apertado.
- Pois é. Isto vai acabar. Eu vou parar de viajar, vou morar na roça e criar galinhas e porcos naquele terreno que meu pai deixou. Já estou cansado de viagens.
Despediu-se com um beijo.
- Vai com Deus, meu filho. Eu vou ficar rezando.
Às cinco horas da tarde o telefone toca. Uma voz me diz:
- Quero falar com Maria Aparecida.
- Sou eu mesma, pode falar.
- A senhora é mãe de Antônio Carlos Nogueira?
- Sim, senhor. O que aconteceu?
- Minha senhora, mande trazer um carro funerário. Seu filho acaba de morrer. Bateu o carro em um caminhão.
Aquela notícia foi uma paulada na minha cabeça. O que aconteceu depois não sei dizer. Só o vazio e a saudade dele é muito grande. Eu que sempre resolvi os problemas de meus filhos, segurei todas as barras, esta me escapou. Senti-me totalmente inútil.
Mas o tempo é o maior remédio para todas as amarguras e tragédias, deixando apenas marcas e saudades. Para compensar ele deixou-me um lindo casal de netos, Carlos Eduardo e Alexandra Aparecida.
(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)