Deus e as artes do lar
Não fosse a minha busca incessante em querer aprender sempre, talvez eu estivesse reclamando de lavar tênis. Houve uma fase que qualquer serviço - direta ou indiretamente - doméstico me irritava.
Por graça divina, ter crescido com um pai entusiasmado, que via alegria nas mínimas coisas, fui, aos longos e danosos anos, descobrindo a essência de provar a doçura dos detalhes. Engraçado que "Detalhes" sempre foi a música favorita do meu bom velhinho.
Os anos foram passando, eu fui crescendo e aprendendo que os mais simples gestos podem mudar o nosso humor e nossa ótica. Devo dizer que isso tudo se resume a uma pequena, mas grandiosa palavra: amor.
Jamais imaginei que servir poderia ser tão (ou mais) satisfatório quanto receber. Não é por acaso que o maior homem que existiu, passou por esta terra em forma encarnada para servir.
Lavar tênis não é tarefa doméstica, mas é tarefa que se faz em casa e, tudo que fazemos no lar, ainda mais relacionado à limpeza, parece-nos ínfimos, ou até mesmo comuns. "Ah, é só uma dessas bobagens".
Para mim, o engraçado foi achar graça e alegria nessas bobagens que vêm preencher a minha mente com reflexões de como melhorar como ser humano, filha, amiga, cristã.
Nessas horas eu vejo o quanto a pequenez tem valor e serventia ao meu dia a dia. Talvez, para muitos não seja nada. Para mim, vale as minhas ideias, desabafos, recordações e, obviamente, limpeza: no coração, no olhar, na casa e nos tênis.
Texto escrito na época da pandemia, após a leitura do livro "Deus e as artes do lar", de Pablo Prieto.