Pobres tímidos
Foi numa dessas conversas cotidianas, daquelas que dificilmente se esquece e vez ou outra vira crônica, que discutíamos sobre nós, eu e elas, as amigas.
Dizíamos sobre os tímidos, acanhados, essa gente quase sempre mal interpretada. Timidez foi o maior dos meus temores na infância: causava dor de barriga, bochechas vermelhas, tremura nas mãos, visão desfocada. Era ser escolhida para ler texto que as manifestações físicas se davam, episódios pavorosos. Cresci e foram diminuindo, mas alguns resquícios de temperamento jamais se perdem.
Foi desse ponto específico que falávamos, a vergonha. "Não sei lidar com elogios", me disse a amiga; "pensei que fosse só eu", completei. Rimos juntas. A tal da timidez nos deixa (também) paralisados diante de elogios. As respostas aos louvores ou aplausos se resumem em sorrisos amarelos, as velhas bochechas vermelhas, olhares desviados ou três emojis seguidos: "é para não parecer tão seca".
Tachados de esnobes, apáticos, secos ou até mesmo frios, os pobres tímidos são melhor compreendidos por quem ainda é ou um dia foi, já que a timidez tem raiz nociva, e muitos, depois de tanto insistirem, vão perdendo as características inseguras.
Aos poucos - porque a mudança dá-se em dose homeopática - os tímidos vão adquirindo avanços. Começa com os impulsos dos ousados, as intervenções dos extrovertidos, os trabalhos a serem apresentados, a entrevista a ser enfrentada, a vida a ser vivida; os tímidos, movimentam-se, mesmo, é nas circunstâncias inevitáveis, afinal, a necessidade faz a ocasião, a oportunidade, o homem e o tímido...a falar.