Uma Vida de Circo XXII

UMA LUZ NO FINAL DO TÚNEL

Uma tarde linda de sol, eu estava só e triste sem objetivo na vida. Os filhos estavam ausentes, a casa grande e silenciosa como um túmulo. Eu era uma morta viva. Tocou a campainha. Fui ver quem era. Entra Osvaldo André.

- Que bons ventos o trazem?

- Como vai, Aparecida?

- Eu mais ou menos e você?

- Ah, eu vou bem e venho te fazer um convite. Estou montando uma peça de Nelson Rodrigues de nome “Dorotéia”. Sei que você já foi de circo e apresentou em teatro. Convido-a para fazer parte do elenco.

- Oh, Osvaldo, muito obrigada por você ter se lembrado de mim. Será que eu consigo, depois de tanto tempo?

- Experimente! Deixo a peça com você. Leia e me dê a resposta.

Foi o que aconteceu. Começaram os ensaios. Senti-me viva novamente. Aquela visita, como disse o poeta Guilherme de Almeida em sua poesia, foi como “o sol que entrou pela janela, trazendo luz e calor a esta alma escura e fria”.

Os ensaios eram animados, o meu papel era de viúva muito feia, de nome Carmelita, doida por homem. Não podia ver uma botina que ficava enlouquecida. As colegas eram boas amigas, principalmente a Irene Silva. O Diretor, Osvaldo André, era muito paciente.

Chegou o dia da estréia. O Cine Alhambra ficou lotado. Eu estava superemocionada. Depois de tantos anos, voltar a ouvir os aplausos da platéia, como me soaram bem aos ouvidos! Era o que eu precisava para viver. A vida passou a ter um sentido para mim. vieram outras peças, outras apresentações. A solidão foi para o espaço.

Os anos foram passando, os filhos voltando, os netos chegando, um por um, e a alegria voltou. Começou para mim uma nova vida, um novo renascer!

Para conquistar novo espaço

Conseguir minhas metas

Eu voei para os braços

Dos meus amigos poetas.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 24/12/2007
Reeditado em 24/12/2007
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