Uma Vida de Circo XX

O ASSASSINATO

Na vida, porém, temos surpresas desagradáveis. Na década dos anos sessenta, no último dia de janeiro, era uma noite de muita chuva destas de causar enchentes. As crianças e eu já estávamos recolhidas, quando ouvi fortes pancadas na porta da sala. Pensei:

- Quem será a estas horas, com esta chuva? O fazendeiro não é porque ele tem a chave.

- Quem é? Perguntei.

Uma voz nervosa gritou:

- Abra a porta. É o seu compadre Geraldino.

Abri a porta e ele todo molhado foi entrando e disse:

- Comadre, venho te buscar. Aconteceu uma desgraça. Mataram seu marido.

Eu sentei-me para não cair e disse:

- Era o que eu temia.

O meu compadre, muito emocionado, contou como aconteceu o crime, numa casinha singela que o fazendeiro comprara para sua amante, uma cabocla destruidora de lares. Nesta casa o seu segundo amante traiçoeiramente tramava a sua morte.

Era lamentável aquele homem tão poderoso e valente, aquele peão acostumado a segurar um touro pelo laço, pelo chifre, tombar sem vida por uma pequena bala de garrucha que mais parecia um brinquedo de criança na mão de um simples rapazinho, mas com força bastante para fazer parar um grande coração que sabia ser generoso quando queria. Era um homem corajoso, de muitas aventuras, de muitos negócios e muitas mulheres e não sabia escolher as suas companhias. Este foi o seu mal.

Assim que a notícia daquela tragédia se espalhou, nossa casa foi ficando cheia de gente, chegava de todos os lados. A maior parte era de pobres e mendigos. O que mais me impressionava era vê-los chorar e lamentar a perda de seu benfeitor. Era inacreditável ver aquele homem forte, valente, trabalhador que tinha uma saúde de ferro ali tão desprotegido e desfigurado. A verdade é que atrás daquela valentia e daquele poder, era um homem caridoso com os pobres.

O funeral foi movimentado. Veio gente de todos os lados. O fazendeiro tinha muitos amigos e parentes. Assim terminou a vida daquele homem. A estrada da vida não tem volta.

(Do livro “Retalhos de Uma Vida” - de Aparecida Nogueira)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 24/12/2007
Código do texto: T790336
Classificação de conteúdo: seguro