Entre a secura e a fumaça: Manaus
É tanta coisa pra fazer, para ser, para ter. Só o calor de Manaus já consome boa parte da minha energia. De dia um sol de fritar a moleira, a noite fumaça de rasgar a garganta.
Eu gargalho na cara dos otimistas, dos que tem fé na melhora disso tudo. Acho graça da cara dos sonhadores, dos que levantam as mãos aos céus com a certeza de um milagre.
Desde meados do século XVIII com a Revolução Industrial e o advento do Capitalismo, todo "progresso" surge às custas da destruição dos recursos naturais. De lá para cá não houve melhora, muita luta com certeza, mas basta uma pesquisa rápida para vermos o planeta colapsando sem perspectivas de mudanças positivas.
Não é pessimismo, não é niilismo. Estamos cada vez mais caminhando para estados irreversíveis. A estiagem no Amazonas está em níveis alarmantes, em situação de emergência. A fumaça muda o cenário da nossa cidade e além dos moradores que incendeiam seus lixos, ainda tem os grileiros, criminosos sem escrúpulos, incendiários ruralistas, ambiciosos inescrupulosos.
Estamos caminhando para o fim. Aqui nesse grande inferno quente e abafado, naturalizamos a barbárie e em questão de tempo naturalizaremos também a destruição em massa dos nossos recursos naturais, a negligência aguda com o nosso povo e a invisibilização que sofremos não apenas do Brasil e do mundo, mas de nós mesmos.
Cada vez mais calados, cada vez mais distantes, cada vez mais suscetíveis ao fim. Manaus tem um caos particular. O Amazonas perece, mas diante da mídia nem parece que temos importância. Somos os filhos esquecidos da Pátria Amada, que em berço esplêndido se sufocam com a fuligem do que um dia foi verde e hoje apenas cinzas.