Livros, pessoas, histórias e tantas conversas
Tenho uma característica introspectiva. Apesar de ter desenvolvido, no decorrer dos anos, uma personalidade menos introvertida, os resquícios de temperamento não se perderam. Diminuíram, adormeceram; estão mantidos no foro íntimo.
Nas ocasiões sociais, sempre fui aquela que observava tudo, pouco falava e interagia. Não porque não quisesse, mas principalmente porque sempre preferi ouvi do que falar; outrossim, a timidez também vencia, e eu comunicava somente quando alguém tomava a iniciativa da conversa.
Inúmeras vezes, em diferentes ambientes, fiz as comunicações - e coleguismo - momentâneos. A princípio, sou monossilábica. Basta que o locutor tome as rédeas - da boa e saudável conversa, convenhamos - e eu desabrocho na comunicação.
Ontem mesmo, enquanto esperava pela minha consulta e estava apreciando a atual leitura, uma jovenzinha, que deve contar seus catorze ou quinze anos, ao abrir a porta do consultório, levou seu olhar, sem disfarce, diretamente ao meu livro. Ao sentar-se na cadeira, disse-me: "este livro é muito bom"; "ele é mesmo" - concordei - "você já leu?"; "Não. Mas minha amiga leu e disse que é bom". E seguiu para a estante do consultório em busca, também, de um livro. Neste instante, fui chamada.
Ao adentrar na sala, a doutora comentava comigo a respeito da jovem, que admirada olhava os livros. Começamos, então, a falar sobre o universo das palavras, seguindo para música, arte e autoconhecimento: rico e adorável diálogo.
Desde ontem, o assunto tem-me inquietado. Estou longe de ser como os sanguíneos: extrovertidos e expansivos, os tais facilmente ganham espaço na boa prosa. Por outro lado, percebi que no meu ritmo fleumático é possível adquirir experiências incríveis.
Os monossílabos, aos poucos, têm sido substituídos pelas frases bem estruturadas, impactantes. Não fosse a riqueza que me alimentam os livros, a terapia e a convivência com sanguíneos, confesso, talvez eu ainda estivesse imersa no meu mundinho particular. Ainda bem que existem outros e novos dias, outras histórias, outros livros, outras pessoas e tantas conversas. De fato, elas salvam e embelezam o mundo.