O Fusca 69
O Fusca 69 vivia encerado. Os bancos sempre limpos e o rádio sempre ligado. As conversas ganhavam proporções inimagináveis, desde histórias de cachorros a repreensões.
Foi ficando pequeno, apertadinho. Não só para as caixas de som que eram carregadas no teto como também para o aumento da família. Apertou ainda o orçamento e o sapato.
No dia de sua venda, eu chorei dolorosamente pela perda do meu fusquinha. Ele nos levara a tantos passeios! Meu pai disse que não precisava ficar triste, em um futuro próximo teríamos outro veículo.
Demorou um tantinho até que o caranga chegasse. Nesse período, andávamos de bicicleta; meu pai nos carregou no guidão e ensinou a dar as primeiras pedaladas na sua grande Caloi amarela.
Desenvolvi autonomia, esfolei joelho, pedi uma bicicleta rosa ou um patins. Ganhei primeiro uma roxa, pequenininha. Eu e meu irmão dividíamos a magrelinha.
Por um tempo, esqueci o Fusca. Guardei as memórias no coração e as lembranças ficaram registradas na fotografia.
O tempo passou e a minha tia comprou o fusquinha. Ah, mas passado um bom tempo, ela o vendeu também. Ainda bem que agora sabemos (ou tentamos!) controlar as emoções.
A gente só não controla a nostalgia, mas essa pode nos visitar de mansinho. Hoje, olhando fotinhos, ela pousou no meu ombro e eu só pensei: que saudade do meu vermelhinho! E da minha infância!