Quatro estações
Nossa casa era simples. Havia vários cachorros, árvores, uma piscina - admirem! - com peixes. Havia amigos circulando durante o dia, primos vindo brincar, vizinhos vindo jogar vídeo game. Havia ensaios com o som no último: a guitarra tocava, a voz cantava, as risadas contagiavam. Os anos se sucederam feito estações. Mas não seguiram a cronologia. Correram aleatórios, como se dissessem: "usufruam da criatividade!" E assim foi.
Lá na infância fomos verão: calor humano, passeios à noite, nos pedalinhos, no zoológico. Dias ensolarados, com vários shows, várias pescarias, troca de brincadeira: "agora é minha vez de andar no carrinho!"
Depois veio a primavera. Flores dando o ar da graça. Abríamos a janela e lá, na piscina, elas estavam: roxas, roxinhas; sorrindo para nós, dizendo: "aproveite o tempo e aprecie a beleza". Fotografamos. Visitamos à vó, levamos pão pra tomarmos café. Fomos ao circo, à cachoeira de Emas, andávamos de carro nas noites de dezembro para ver pisca-pisca.
Achávamos, então, que seria o outono. Mas o inverno quis chegar primeiro. Os dias se escureceram. A casa se esvaziou um pouco. Cada um deveria abrigar-se em seu teto. Viria chuva, vai que ela demoraria a passar. E demorou. Mas ela queria ser a "graça". E foi. Mandou água pra superfície, pra mudar a sensação térmica e pra aguar a colheita. Ora, terras secas não germinam.
Um belo dia, o inverno disse adeus. Aprovou-nos. E trouxe, no raiar do dia, um descanso. E o outono. As frutas vieram maduras, saborosas. Caíram folhas, a temperatura amenizou. É o outono. Quando ele passar, outra estação virá. Não sei qual. Seguirá a ordem tal qual o calendário? Talvez. Ah, mas amanhã, na cronologia, começa a primavera. Estação bonita. Aliás, todas elas são. E cada uma ensina uma coisinha. Mesmo que a gente só perceba alguns anos depois.