SAÍDA PELA PORTA DA FRENTE

– Reflexões Maçônicas –

A liberdade de ir e vir, além de um direito natural do homem, é também um preceito constitucional garantido a todos, salvo, as restrições impostas legalmente, quando for o caso. Interligados a esta faculdade, e a própria autonomia do pensamento, trazemos à luz um tema central que requer de todos os maçons, dedicada atenção.

Na Maçonaria ocorre uma prática muito comum, quando o Obreiro, por motivos diversos, se ver impelido a deixar sua Loja, para posteriormente - se assim for seu desejo - se filiar a outra Oficina. Grande parte deste fenômeno se dá por mudança de Oriente, quando o Irmão se transfere a outro município, estado ou país. De igual forma acontece quando alguns, agrupados em confrarias, intentam fundar novas Lojas, bem como os que vão com suas experiências e força de trabalho fortalecer Colunas em diferentes Templos. As causas são variadas, e certamente, outros motivos impulsionam o evento migratório, a espelho das incompatibilidades motivadas pela dinâmica social experimentada na vida profana. Todavia, há relatos de "casos específicos", associados as questões interpessoais, intolerância, e consciência furtiva. Neste quadro os mais comuns decorrem de insatisfações atreladas as relações desgastadas, falta de espaço e voz; e as concebidas, de forma reduzidas, a exemplos de querelas e melindres.

Ao largo deste cenário se integram os que são “convidados” a se desligar da Loja, a partir da emissão de seu Placet de Ofício, seguindo, claro, o que preceitua os regramentos maçônicos. No entanto, vale lembrar que o referido episódio de exclusão do Obreiro da Loja, não o excluí da maçonaria, mas gera um imbróglio desmedido.

Acostado nos princípios gerais em epígrafe, ressalta-se que, mudar de Oficina, é um direito legal do Irmão. Para tanto, basta solicitar da Loja a sua desfiliação conforme preconiza a legislação maçônica. Assim, após os tramites, e cumprido as exigências, a Potência em que o Obreiro está vinculado, emitirá, se for Mestre Maçom, um documento chamado “Quitte Placet”, e no caso de Aprendiz ou Companheiro, um Certificado de Grau ou documento equivalente, que lhe concederá o benefício de poder se filiar naturalmente ao quadro de qualquer Loja, reconhecida e regular.

Quanto aos excluídos por Placet de Ofício (ou Ex Ofício), este basta buscar uma Oficina, e solicitar sua filiação, o que poderá ocorrer, ou não, após um rigoroso procedimento administrativo e de aceitação (por votação) da Loja, a espelho do que igualmente ocorre nos casos anteriormente vistos.

Vejamos, portanto, que o Maçom, enquanto construtor social, independentemente da situação enfrentada, deve, não por obrigação, mas por sua naturalidade de iniciado, saber fechar esse momento com expressiva serenidade, sabedoria e dignidade, saindo da Loja - enquanto obreiro associado por livre e espontânea vontade, e depois por juramento - pelo mesmo pórtico que se abriu para recebê-lo ainda profano, ou seja, pela “porta da frente”, que tantas vezes o viu cruzar como artífice da Arte Real, rumo aos inícios e encerramentos dos trabalhos.

É importante findar este ciclo com o mesmo brilhantismo do momento em que se iniciou, sem deixar brechas que possam macular ali sua história construída ao longo de muito trabalho, respeito e dedicação. O fechamento de uma etapa, seja ela qual for, promove ao ser humano uma nova oportunidade, e certamente o faz crescer pelas experiências pretéritas.

De certo, momentos agradáveis e desagradáveis fazem parte da vida. Entretanto, determinados casos costumam tomar rumos contrários, a modelo dos que deixam, alegoricamente, suas Lojas pela “porta dos fundos”, em alusão a maneira da imagem projetada que escolheu ao partir, muitas vezes, para nunca mais voltar. Como isso ocorre? Não há um regramento explicito. Alguns simplesmente abandonam a Loja sem informar os motivos, outros, optam encaminhar por terceiro o requerimento de sua desfiliação, muita das vezes motivado por rancor, etc.

Existem também os que saem falando mal da Loja, e dos Irmãos, quase sempre se vitimando, colocando a culpa onde geralmente não convém. A despeito de qualquer situação, o fato é que tais feitos ajudam a engrossa o processo da Evasão Maçônica ocorrida no âmbito da chamada modernidade líquida, “cujas relações sociais atualmente se diluem tão facilmente”, conforme defende o sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

Benefício individual e egoísta? Não cabe julgamento, o que vale relembrar é, que o maçom deve sempre trabalhar na busca de vencer suas paixões, submeter às suas vontades, buscando abandonar a obscuridade que insiste se alojar em sua consciência e no seu coração, cujas arestas, por vezes, deixaram de ser polidas.

Via de regra, sair pela “porta da frente”, significa sim austeridade, porém, vejamos que os conflitos e contradições acabam promovendo um grande exercício reflexivo para o aprimoramento moral. Recordando que é sempre de bom tom jamais deixar que o impulso dos momentos fervorosos em que a emoção geralmente se sobrepõe a razão, possa interferir no desligamento de um Irmão de sua Loja.

Enfim, tão importante quanto as reflexões descritas, é o retorno do Irmão a uma Loja, cuja filiação, além de fortalecer as Colunas da Maçonaria, o reencetará aos trabalhos em prol da felicidade humana, e ao exercício constante da busca do equilíbrio essencial da materialidade e do espírito, estes, simbolicamente representados pela união do Esquadro e do Compasso da Maçonaria Universal.

Ir∴ Eylan Manoel da Silva Lins (M∴M∴)

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 25/09/2023
Reeditado em 23/10/2024
Código do texto: T7893607
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